domingo, 30 de dezembro de 2012

TORMENTA




 

Tormenta

Que jaz no abismo sob o mar que se ergue?
Nós, Portugal, o poder ser.
Que inquietação do fundo nos soergue?
O desejar poder querer.

Isto, e o mistério de que a noite é o fausto...
Mas súbito, onde o vento ruge,
O relâmpago, farol de Deus, um hausto
Brilha e o mar 'scuro 'struge.

Fernando Pessoa


sábado, 29 de dezembro de 2012

A contextualização necessária

O trabalho de modernização do desporto português será maior do que o de Sísifo.

A crítica que se faz ao trabalho da PWC por parte das federações como se observa hoje de novo na Bola pode ser justa mas parece incerta.

Existem problemas no desporto português e há que apresentar estruturadamente as causas e as soluções não de uma forma fechada mas permitindo obter consensos de posições que poderão ser contraditórias.

No outro dia um dirigente de uma federação indicou-me uma hipótese de trabalho que me parece correcta há muito e já a tenho sugerido.

Porém, logo de seguida diz que tinha de ser feita por investigadores internacionais porque em Portugal não existem pessoas capazes.

Ora, a procura de soluções internacionais foi o que Alexandre Mestre fez e contudo isso não coíbe os entrevistados da Bola de o liquidarem.

Por outro lado, também, a Troika faz aquilo que os líderes portugueses não fazem e a sugestão aqui fica, porque não contratar líderes desportivos para as federações porque os que existem não vão lá?

Tenho muitas dúvidas que haja dinheiro em Portugal para contratar quer as empresas multinacionais ou os investigadores estrangeiros para fazer os estudos necessários ao desenvolvimento desportivo nacional e da minha pobre experiência quando estes especialistas chegam a primeira coisa que dizem é: então digam lá as coisas para eu saber o que hei-de dizer a quem me paga o trabalho.

Os anos passam e estas atitudes de impotência impedem a mínima produção e acumulação de soluções através do saber-fazer nacional.

Há um problema de atitude no desporto e nos líderes nacionais que se observa que noutros sectores vão conseguindo ultrapassar as próprias limitações. Os exemplos são as universidades, a cultura, os sapatos, a indústria e alguns mais.

Os líderes desportivos portugueses deviam olhar criticamente para si próprios e serem humildes perante a sociedade e a população portuguesa que lhes mete imenso dinheiro nas mãos e também o seu bem-estar e tantas vezes a vida dos seus filhos.

Os líderes federados são igualmente os primeiros a desculparem-se de mil e uma formas pelos resultados que não produzem e são incapazes de aceitar o trabalho e as propostas dos outros.

A crítica que agora se faz com o estudo da PWC podendo ser legítima, peca pela incapacidade de debater os resultados e colocar alternativas consensuais o que já o desporto português fez e faz com outros estudos e análises nacionais fechado em si mesmo.

O exemplo enfadonho do programa da Bola tem a virtude de demonstrar à opinião pública o que será o debate no seio do Conselho Nacional do Desporto e noutros fóruns de decisão da política desportiva nacional.

A Bola está de parabéns pelo programa por destapar a imagem que se suponha existir mas que os protagonistas calavam publicamente.

Parece óbvio por este exemplo que o debate sobre a política desportiva tem de se fazer com outros instrumentos e não estou a falar de outros protagonistas.

Quem está na corrida do programa da Bola são os corredores actuais assim como quem está no CND é quem lá está e a inovação a introduzir relaciona-se com as regras do jogo.

Ninguém gosta de assistir a uma competição com batota ou a um jogo de corredores sem nervo e que como aquele jogador há anos voltava-se para o colega e piscava o olho da falta que tinha tirado ao árbitro sobre o adversário e era desportivamente inexistente.

Tanto mais quanto este debate descontextualizado dos desafios reais do desporto português no todo europeu afecta sobremaneira a população portuguesa e os carenciados e os mais pobres.


Bom ano para todos.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Pois, Vicente Moura por ele próprio

Na Bola de hoje diz que o estudo da PWC encomendado pelo Governo tem problemas.

O que é que no desporto português de hoje não os tem?

Seria útil que o COP apresentasse os estudos feitos pelo menos para mostrar que fez alguma coisa porque de resultados olímpicos ninguém os vê.

Para quem está há tanto tempo no poder continuar a dizer que o desporto português está obsoleto é não compreender que talvez haja uma relação de causalidade entre utilidade da sua permanência e os resultados produzidos.

Oxalá haja quem aprenda alguma coisa das afirmações deste género e que as lições permitam distinguir o preto do branco.

O debate que não se faz no processo eleitoral do COP

O desporto devia estar a discutir as condições do futuro por parte dos investigadores e opinion makers mas infelizmente há um silêncio.

Eu devia estar a discutir questões características do desporto trocando ideias e posições com outros elementos na busca de um esclarecimento sobre múltiplas questões criando condições para uma melhor liderança.

Falta estratégia ao desporto.

Não é que o desporto não actue com inteligência por sistema.

Há sinais positivos quando estrategicamente o governo decide atribuir subsídios quadrienais às federações olímpicas ou quando decide contratar uma empresa para analisar os 3 últimos ciclos olímpicos e a partir daí estabelecer um plano de outros 3 ciclos olímpicos. A junção da juventude e do desporto envolvendo a obtenção de economias de curto prazo tem consequências que se devem compreender estrategicamente sob pena de não se apreenderem situações limite que surgem a prazo.

O associativismo desportivo também actua estrategicamente mesmo não o reconhecendo quando decide eleger o candidato A em vez do candidato B. As federações defrontam-se com situações no longo prazo que tinham como adquirido e depois afinal diminuem muito. Foi isso que aconteceu à Canoagem quando ganhou muitas medalhas mundiais no início do ciclo de 2009 a 2012 e depois as vitórias foram diminuindo até chegar a uma. Todo o desporto pensava qualquer coisa de Londres mas a Canoagem é o elemento de referência o que demonstra que houve falhas estratégicas que eram conhecidas como podendo acontecer. Por sistema Portugal ganha medalhas europeias e mundiais e acumula-as no início dos ciclos olímpicos e depois esse pecúlio dá para sustentar o ciclo. O Râguebi estará avisado do que o espera e terá de manter a fasquia tão elevada quanto a dos seus adversários para não lhe acontecer como habitualmente acontece no desporto português.

Estes comportamentos com perspectivas e resultados estratégicos mostram como a matéria é mais do que sensível é vital para o desporto português.

Uma última nota, a estratégia e a sua concepção ou planeamento tem virtualidades e limites.

Estes últimos estando presentes não retiram a validade do instrumento.

Quando o Governo decidiu atribuir um subsídio a quatro anos às federações olímpicas essa era uma velha aspiração do desporto e das federações.

Hoje sabe-se que os resultados que se esperavam falharam em 2008 e depois ainda mais em 2012.

Uma hipótese é a de passar de novo aos subsídios anuais.

Outra hipótese é o de seguir o planeamento estratégico a 3 ciclos olímpicos.

Naturalmente que a experiência recente do subsídio de 1 ciclo olímpico sugere uma melhoria em alguns momentos e situações o que não destruirá o conceito de estratégia envolvendo um período longo de actuação das federações nacionais.

Para a política de uma federação, conhecer as linhas de política desportiva com que se vai orientar no longo prazo é tão importante como conhecer e lidar com leis e regulamentos que lhe permitem emendar possíveis erros, limitações ou imprevistos.

Há erros graves noutras áreas do conhecimento e nalguns protagonistas mas isso são dados da realidade que o domínio de uma visão estratégia tanto quanto possível clara permite singrar melhor por entre esses escolhos e imprevistos.


Tratei aqui de dois temas: a necessidade de um debate científico e técnico, antes de ser político ou de políticas, e do conceito de estratégia. Economicamente sem tolher a necessidade de outros instrumentos a estratégia é dos elementos estimulantes que a política desportiva pode beneficiar.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O ano que agora termina e o novo ano

2012
Na liderança do desporto português a crise do desporto dá sinais frequentes da sua presença como principal acontecimento de 2012.

O COP é o centro do arrastar da crise do desporto por um processo eleitoral anquilosado e pela dificuldade da Direcção actual dar sinais de vitalidade contribuindo para a renovação desse processo eleitoral.

Corporativamente há uma ideologia liberal assumida à direita enquanto a esquerda mantém o silêncio de actos contraditórios com avanços e recuos, afirma-se um novo desejo de poder mais técnico deixando de assumir a liderança dos bastidores e outro mais corporativo da velha guarda dos presidentes das federações.

À luz destas contradições as federações fazem eleições, sem um norte ou sem um poder forte, e os sinais que chegam mantêm-se confusos e receosos do debate democrático.

É nas federações que surge uma nova esperança com inúmeros candidatos novos a darem a volta às eleições que se supunham ganhas por candidatos tradicionais. 

Os novos candidatos são uma vertigem de novas experiências e do legítimo poder no desejo de também eles experimentarem e terem o benefício da dúvida se errarem e poderem emendar os seus erros.

As lideranças da velha guarda não convencem os colégios eleitorais federados defendidos pela iniquidade e ineficácia da lei do desporto, um perfeito sistema de imperfeições acumuladas durante mais de 30 anos e geridos por protagonistas que querem o máximo para si e os seus, actuando sem o exercício de grandes princípios nacionais ou europeus e com muito medo dos poderes instituídos e da própria sombra frustrando as expectativas sociais.

Este é o caldo de cultura da governança do desporto português para 2013.

Do ponto de vista da produção desportiva o Rugby é a modalidade que não surpreende e deve ser apontada como a modalidade de 2012 pela afirmação da selecção nacional de Sevens entre as melhores da Europa e do mundo. São passos que estão a ser dados há décadas que o Rugby começou a crescer primeiro nos 15 e agora aproveitou a brecha de uma nova disciplina técnica na modalidade e faz a sua afirmação entre os melhores destacando o país numa disciplina colectiva, área colectiva onde o país geralmente soçobra. São pois os vários factores que apontam o Rugby como modalidade de 2012 mesmo não tendo ido aos Jogos Olímpicos de Londres. O Rugby português tem estado a tombar gigantes e é esse o exemplo superlativo a reter.

A Canoagem seria a modalidade de 2012 se tivesse ganho mais do que uma medalha olímpica de preferência 3 medalhas ou mais mostrando que a sua afirmação era sustentada e afirmativa. Uma medalha é pouco para a Canoagem que não se distingue suficientemente do país desportivo. Uma medalha é demasiado próximo de zero medalhas como aconteceu com tantas modalidades olímpicas.

2013
A eleição do COP é o acontecimento do ano para 2013.

O colégio eleitoral do COP, mesmo não compreendendo o como e o porquê desta responsabilidade, tem a responsabilidade de eleger o líder desportivo que vai marcar o desporto português para as próximas décadas, mesmo que o processo eleitoral e os candidatos não assumirem ou aprofundarem as dimensões dessa realidade que a todos nos transcende.

2013 vai continuar a ser um ano muito difícil para o desporto português, principalmente pelo deserto de ideias e de coragem para assumir um rumo inovador.


Um bom ano de 2013 para todos.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Os clubes e o presidente do COP

Hoje um amigo comentava que não há uma relação entre o trabalho nos clubes e o presidente do COP e que a eleição deste era indiferente para quem trabalha nos clubes.

Concordei com ele e sugeri-lhe que essa é uma das lacunas portuguesas.

De facto, nas décadas que passaram o presidente do COP nada terá dito ou mostrado em benefício dos clubes.

Esse um desafio para o futuro? Vejamos,

Deve o novo presidente do COP actuar apenas voltado para o alto rendimento e a prestação olímpica de 26 modalidades e a acção dos seus presidentes ou deve actuar de outra forma?

Eis um tema que merece ser observado.

Caso o novo presidente se preocupe com o trabalho dos clubes a solução encaminha-se para a compreensão de novas funções que não tendo sido cumpridas no passado agora urge abordar nessa sede.

Caso o novo presidente não se tenha de preocupar com o trabalho dos clubes então há que discutir quem o fará alternativamente com igual ou maior autoridade.

Isto para o caso da realidade dos clubes ser relevante.

Face à real ineficiência do mercado dos clubes desportivos portugueses haverá que encontrar uma solução para os seus desafios e ou potenciar um cargo de líder ou alternativamente colocar a resolução dos desafios dos clubes noutras mãos.

A outra hipótese é deixar os clubes na Graça do Menino Jesus como até hoje.

Fazer diferente do Menino Jesus fica para outra ocasião.

No Expresso a entrevista de Vanessa Fernandes

A comunicação social não dá sinal de conseguir tratar o Caso Vanessa Fernandes.

Perante o atirar às feras da atleta pelo novo presidente da modalidades o Expresso obediente e acéfalo entrevista a jovem.

Porque o há-de fazer se mais ninguém trata do Caso de forma superior?

É uma entrevista de uma jovem muito magoada com o que desconhece e que é um universo e confusa e imensamente só em relação a si própria.

Algum candidato ao COP trata ou equaciona o Caso Vanessa Fernandes.

Vale a pena trabalhar o Caso Vanessa Fernandes?

O Caso Vanessa Fernandes é todo um Tratado.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O horror do vazio no jornal A Bola de hoje, ou como andar aos papéis e estragar o desporto ainda mais

A reafirmação de candidatura na Bola de hoje é a precipitação face a um vazio que apenas existe por uma lacuna de percepção da realidade desportiva e nacional.

Sem desconsiderar o candidato e face às condições restritas de eleição do COP o elevar do número de candidatos fragmenta de certa forma o processo eleitoral.

Naturalmente as federações com melhor informação tenderão a concentrar-se nos candidatos com currículo desportiva e socialmente mais relevantes e com melhores propostas de trabalho e de futuro.

A hipótese de algum candidato avançar porque há um partido que não se identifica com candidatos com o melhor currículo desportivo e social é uma realidade possível dentro das características do Modelo Português de Desporto em que os líderes e responsáveis das organizações não são muitas vezes eleitos e nomeados pelas capacidades e currículos apresentados. O Modelo tem outra característica pior que é o líder ou o dirigente não apresenta resultados da sua gestão e mantém-se por imenso tempo sem uma renovação inteligente por parte dos seus parceiros ou dos responsáveis pela sua nomeação.

A saída de um dos candidatos anteriores indicava uma cautela institucional que agora a nova propositura questiona.

Foi introduzido ruído onde devia ter-se caminhado para a consensualização de um par de candidatos que focariam em si a atenção do desporto e da sociedade para soluções vitais para o desporto português.

Focar na sua candidatura que se conhece A e B internacionalmente é um estilo e um programa de liderança a milhas da realidade desportiva nacional. Essas imensas personalidades internacionais gostam de líderes nacionais 'bons alunos' que lhes enchem o ego e os bolsos com eventos e megaeventos escusados face ao nível e `s necessidades competitivas do desporto português. Precisamente a questão dos eventos e megaeventos é um dos temas fulcrais da realidade que passa. Mas o que se coloca em cima da mesa é o conhecimento de personalidades...

Pergunta-se: 
  • Quem apoia o novo candidato fá-lo pela sua qualidade ou pelo que representa institucionalmente e não se confessa com transparência?
  • É esta a liberdade que se quer para as federações nacionais?
  • Face à tremenda crise do desporto e fora dele há quem esteja a brincar como de costume com o desporto, não há?
  • Há quem deliberadamente jogue no ruído que vai debilitar o desporto português, não parece?
  • Quem é que anda para a frente e para trás e não consegue apresentar uma linha de rumo objectiva e clara para o desporto português e parece que anda aos papéis há já algum tempo?

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

EDITAIS PEDAGÓGICO-ECONÓMICOS

 Um edital ínsito na Gazeta de Lisboa n.º 308, 25.12.1810, nestes termos 

 historicamente um acontecimento de longa duração, e, por longa duração, induz que os padeiros aprenderam com os políticos nas virtudes económicas praticadas, porque os exemplos chovem de cima,  em obediência ao aforismo pecunia obediunt omnia.










O que diz Fernando Mota na Bola de hoje?

Sucintamente estas notas são a minha interpretação:

  • A responsabilização das federações sobre aquilo que querem 
  • A dinamização e potenciar desse querer
  • Partilhar as responsabilidades
  • Contrapor alternativas à legislação pela legislação desportiva
  • Atender ao desenvolvimento desportivo
  • Usar o COP para galvanizar o país
  • Fomentar a prática desportiva
  • Promover a unidade das federações
Podendo não ser tudo são afirmações do combate dos chefes

(note-se que estas notas são a síntese da síntese da Bola e que aqui ficam para continuar o diálogo necessário até Fevereiro)

As páginas 38 e 39 de A Bola de hoje

Tem a entrevista de Paulo Frischknecht e de Fernando Mota e a notícia da candidatura de José Manuel Constantino e da tomada de posse de Luís Santos à frente da Fundação do Desporto que lhe foi dada por Miguel Relvas e Alexandre Mestre.

São duas páginas de mão-cheia da realidade do desporto nacional e das possibilidades de futuro.

Um futuro complexo que tem de ser feito de complementaridades e menos de fracturas.

Há boas e más notícias.

Estas são uma abertura da comunicação social que importa reter demonstrando a sua atenção para aquilo que o desporto cria e oferece, particularmente aqui observamos a atenção da Bola.

Tal significa que os assuntos do desporto podem passar em maior quantidade na comunicação social.

O facto do desporto ter definhado continuadamente ao longo dos anos retirou margem ao negócio da comunicação social desportiva.

O desporto não acerta em tudo o que faz e tem coisas boas, sendo certo que as más foram superiores às boas e a atenção da opinião pública e da comunicação social centrou-se nas últimas já que muitas das não notícias que são más notícias não são um produto consumível pela opinião pública.

A produção de notícias é uma arte que o desporto português domina mal porque não especializou e aprofundou aquilo que quer e faz de fulcral.

Nas páginas da Bola observa-se o bom e o menos bom e não caberia ali fazer mais.

O desporto merece agora novas peças sobre o projecto de cada um dos candidatos e o debate cruzado entre eles para compreender o detalhe das propostas e mais importante ainda ter um jornalismo incisivo e conhecedor capaz de ir buscar informação que se não for puxada não vai aparecer com prejuízo para o desporto.

Este é o papel que o COP deveria assumir e ajudar o esclarecimento da opinião pública e das suas federações e que se demitiu de o fazer de certa forma em coerência com o trambolhão que dá desde 2008, pelo menos.

À partida as eleições do COP são matéria desportiva palpitante e isso poderá depender dos candidatos, da comunicação social e de outros parceiros.

Um novo passo seria transportá-la para os órgãos de comunicação generalistas e programas de televisão em sinal aberto.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Les Jeux Ne Sont Pas Faits!

O combate dos chefes vai entrar numa nova fase.

O tempo vai passar a ser mais curto até Fevereiro e tendo saído um dos candidatos o convencimento dos presidentes das federações passa a ser mais forte.

Há quem sugira que existe um favorecimento de um dos candidatos impedindo as acções relacionadas com a democracia do processo eleitoral. Isto é de ouvir dizer.

Mas também se espera que as federações pensem com as suas cabeças e distingam o trigo do joio apesar de tudo.

Os meios de democracia hoje são amplos e não estou a ver que os candidatos que restam lhes falte presença, imaginação, meios e convicção para demonstrarem a razão dos seus argumentos.

Até Fevereiro é de esperar que os eleitores maiores dêem o melhor de si para as respectivas modalidades e negócios desportivos e também escolham o melhor para o desporto português.

Há regras novas a estabelecer como por exemplo negociar com o Estado, a economia e a sociedade portuguesa novas regras estabelecendo os termos de troca entre aquilo que o desporto produz e oferece para consumo da população e aquilo que a economia e a sociedade vão dar para esse mesmo produto.

O diferencial em aberto entre as necessidades de financiamento e o custo da produção costuma ser pago pelo Estado nos países mais desenvolvidos do mundo.

Neste contrato tem de haver a justa remuneração justas a pagar aos protagonistas sejam atletas, treinadores, dirigentes em geral e em particular a equipa que irá liderar o COP.

Este contrato é do máximo interesse que seja trabalhado de forma inteiramente diversa daquilo que foi no passado que a todos levou por caminhos prejudiciais e de profunda ineficácia e ineficiência.

Nunca se terá produzido tão pouco desporto para tão grande financiamento.

Renegociar o seu produto é algo que cada presidente de federação vai ter de fazer no futuro, exigindo o pagamento adequado e comprometendo-se a cumprir os termos do contrato.

A confiança entre o desporto a economia e a sociedade foram desbaratadas em 2008 e isso levou o país a abandonar o desporto.

Até Fevereiro cada presidente do colégio eleitoral tem de debater directa ou indirectamente com cada candidato as condições do contrato de todo o desporto e da sua federação em particular.

Até Fevereiro há que debater a racionalidade do Modelo Português de Desporto.

Desse debate as posições de todos os parceiros evoluirão e a decisão final será economicamente marginal.

Até Fevereiro, Les Jeux Ne Sont Pas Faits.

OS TRILHOS PARA A DEMOCRACIA

A propósito do anterior post do Professor Fernando Tenreiro, o que pensa o Académico Maurras:

« Dizer organização democrática equivale a dizer um círculo quadrado. Não se organiza a democracia. Não se democratiza a organização. Organizar a democracia é instituir a aristocracia; democratizar uma organização é introduzir-lhe a desorganização; organizar significa diferenciar, isto é, criar desigualdades úteis; democratizar é igualizar, é substituir as diferenças, as desigualdades, as organizações, pela igualdade que é estéril e até mortal. »

 Maurras (1868-1952)

As exigências da democracia no desporto português

O terreno de debate para a eleição do presidente do COP faz-se no interior do mesmo movimento associativo que gerou a situação desportiva actual.

O presidente em funções parece não ter feito nenhuma intervenção na comunicação social chamando a atenção da sociedade portuguesa para a relevância do momento olímpico, o que corresponde a uma visão do cargo e do desporto.

Também teria sido útil ter convidado a Universidade a apresentar perspectivas sobre a realidade actual do desporto português para alimentar o debate através do conhecimento produzido nas faculdades de desporto e outras e também para ouvir parceiros sociais.

Noutra perspectiva administrativa um dos candidatos enquanto elemento da Direcção actual poderá ter melhores condições de candidatura do que outros candidatos o que deveria ter sido evitado pela criação de uma estrutura de eleições aberta e equitativa a todos os candidatos.

Estas três questões a da abertura à sociedade, à universidade e da equidade do combate dos chefes fariam parte do posicionamento e da mecânica de um acto democrático.

Na eleição do presidente do COP de 2013 há duas perspectivas vitais entre outras alternativas pontuais.

  1. O presidente do COP dedica-se apenas à participação olímpica.
  2. O presidente do COP é o presidente de todas as federações e é a face do desporto português.
A primeira solução é o business as usual e a segunda é o futuro europeu.

A partir do assumir de uma destas opções dependem todas as outras que marcarão estruturalmente e por imenso tempo o desenvolvimento do desporto português.

Esta questão não foi consensual nem assumida pelos poderes vigentes até hoje e pode não ser pacífica no colégio eleitoral de federações desportivas.

A possível não-democracia do debate e do tempo que se perdeu e vai perdendo desde o fim dos Jogos Olímpicos de Londres e se se quiser ir mais longe desde o fim de Pequim e também desde as legislativas de 2011 faz com que aqueles que se deixaram matar num cenário de iniquidade e de ineficiência do Modelo Português de Desporto sejam agora os agentes que irão eleger e determinar uma saída para o futuro do desporto português, caso seja essa a opção de olhar o COP como líder de todo o desporto.

A limitação principal deste colégio eleitoral é o seu encerramento dentro do seu quadro de actuação tradicional sem instrumentos modernos de conhecimento de uma realidade tão competitiva como a do desporto europeu e que não retirando o mérito das decisões de cada um dos eleitores federativos são questões que sempre estiveram e estão para além do quadro de decisões que tradicionalmente lhes são colocadas para decidir e no passado tolheram as melhores decisões coincidentes com um futuro europeu competitivo que lhes fugiu até hoje.

A limitação é o quadro de condições e o usufruto do conhecimento desse quadro em condições que permitam a melhor apropriação para benefício primordial das próprias federações de que se compõe o desporto português.

Duvido que a totalidade dos candidatos se batam por uma perspectiva alargada preferindo a solução minimalista e a manutenção do status quo.

Neste momento existirão três/quatro candidatos Marques da Silva, secretário-geral do COP, e Carlos Cardoso, presidente da Confederação do Desporto de Portugal, Fernando Mota e José Manuel Constantino.

Manuel Brito deu uma grande entrevista ao jornal a Bola e entretanto terá desistido.

A abertura das eleições para presidente do COP à sociedade e ao desporto português alcançando desde o momento actual outro posicionamento distinto do passado será portadora de benefícios que poderão estar melhor direccionados para a população portuguesa.

Não havendo uma atitude competitiva por parte da actual Direcção do COP caberá aos candidatos a líder a dar o passo de por sua iniciativa abrirem-se à sociedade portuguesa sem receio e marcando um novo futuro para o desporto português.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Correr atrás da própria cauda, salvo seja ...

O nível do debate sobre os desafios do desporto e das suas dimensões críticas é nulo.

Não só os partidos com assento parlamentar nada dizem publicamente sobre o que acontece e o que devia acontecer como umas eleições como as do COP num período difícil como o actual não geram um debate aberto.

Talvez se espere que venha um D. Sebastião que faça maravilhas mas que ninguém tem coragem para indicar quais são.

Como se apresentando soluções isso retirasse graus de liberdade à decisão ou o líder não fosse capaz de decidir bem.

Dá-se o ceptro de mão beijada para o eleito fazer as maravilhas que lhe saiam da sua excepcional lavra.

Este processo sabe-se no que dá, desde o tempo da outra senhora e agora há exemplos actuais.

O que dá é a falência do desporto para acompanhar a do país.

A recente apresentação de 'contas' pela Federação Portuguesa de Futebol e toda a sua Direcção após um ano de liderança é um procedimento de elogiar e aguardar que não desapareça.

As soluções neste domínio poderiam ser muitas e o relevante é que estes procedimentos se intensifiquem para que a sociedade e os parceiros compreendam quais os aspectos positivos do desenvolvimento desportivo e se possam colocar no mercado para melhor aproveitarem os tempos que passam e as transformações introduzidas.

À falta de objectivos nacionais e apenas com debates restritos alguns responsáveis parecem apoquentados consigo próprios e com frenesim repetem-se não notando a cópia múltipla passados alguns anos o que parecendo impossível de evitar, e falo por experiência própria, há que tentar encontrar soluções que acompanhem a complexidade dos desafios que não se resolvem.

Isto para sugerir que deixando a cauda em paz, há um trabalho imenso para realizar e a necessidade de uma coragem elevada para tomar os assuntos fulcrais, compreender quais os aspectos estruturais e trabalhar para encarreirar o futuro na actuação dos parceiros e nas relações entre todos.

A revolta na Bounty

A história na Bounty é a de marinheiros que se revoltam contra as regras britânicas e se isolam numa ilha do Pacífico onde definham e desaparecem.

O objectivo de criar um futuro novo e alternativo ao do Império Brtânico foi o apelo que os marinheiros procuraram e que depois acabaram por sucumbir sem o conseguir. 

Hoje observam-se as novas lideranças do desporto e cabe perguntar se não são futuras Bounties.

Não tenho a resposta certa e a ajuda que encontro é a do passado e na compreensão que as lideranças do passado tiveram lacunas que não facultaram a criação sustentada de futuro.

Ontem tive dois acontecimentos: o primeiro foi uma feijoada gorda que me trouxe uma azia que se prolongou durante muito tempo, a segunda foi um toucinho que era do céu e limpou tudo o que de mau tinha acontecido anteriormente e mostrou como o cenário geral tinha aspectos por que valia a pena trabalhar. Não entrarei em pormenores sobre estes acontecimentos.

Há um aspecto pessoal na eleição do COP em que conhecendo o Fernando Mota, o Manuel Brito e o José Manuel Constantino praticamente às mesmas dezenas de anos, ficarei contente com o que ganhar e triste com os outros dois.

A construção de um futuro para o desporto que se espera do COP é uma escolha racional, empenhada com uma dose de risco potente e assumido, só esse objectivo valerá a pena porque é ele que impede as revoltas das Bounties.

O desporto português não pode ficar dependente da eleição de pessoas que vão dar o melhor de si mas que estão desenquadradas das possibilidades de futuro.

Estão a ser eleitos líderes com formação superior e experiência de muitos anos e cujo erro talvez seja a sua componente da equação relacionada com a sua experiência que pesam em comportamentos dentro do figurino tradicional.

Dizia-me um amigo engenheiro com 40 anos de desporto desde os nossos tempos do rugby do técnico que há um problema com os professores de educação física e a sua dificuldade de interagir com as outras áreas do conhecimento e esta afirmação apanhou-me de surpresa porque não estava à espera que uma pessoa como ele tão próxima de múltiplas lideranças tradicionais tivesse esta apreciação.

Para o COP e para as diferentes federações não é inaceitável que aqueles que se sentem com argumentos de afirmação e liderança não dêem o seu passo em frente e assumam em plenitude as tremendas responsabilidades de liderança desportiva no desporto português actual.

A dificuldade está em assumir comportamentos para construir novas estruturas portadoras de futuro.

O desporto não produz resultados desportivos porque as suas estruturas não funcionam e as pessoas e os líderes não terão a intuição de certo equilíbrio, democracia e capacidade de afirmar e promover roturas dentro de um plataformas de consenso e calendários seguros e simultaneamente urgentes.

O COP é hoje a chave para o nosso futuro desportivo e devia tê-lo sido há 4 anos e tudo correu mal, não propriamente Pequim mas o que se passou de errado depois. O Parlamento de então calou-se como o de hoje também faz e a sociedade trata da sua vida e não coloca o desporto como uma das vertentes fundamentais do seu futuro.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

IAKS

Novidades do IAKS sobre EXPO ESTÁDIO 2012, em S. Paulo

As 5 medalhas que Portugal e o cheiro do balneário

Há catedráticos e altos dirigentes federativos que recusam a média europeia de 5 medalhas olímpicas para Portugal.

A sua posição é mais simples apesar da sua argumentação poder sugerir a impossibilidade da realização por inúmeras razões como o facto de Portugal nunca ter conseguido ganhar 5 medalhas.

A razão da sua posição negativa e de recusa sequer de um debate sério sobre a matéria, recorde-se que falamos das pessoas que à partida são das mais inteligentes do desporto e os que possuem poder para organizar debates sobre matérias polémicas e contribuir para o esclarecimento das situações, é que possuem em geral uma lacuna técnica ou científica ou simplesmente pessoal para compreenderem o outro seja a outra ciência ou o outro com quem se dialoga e se constrói o desporto novo.

A fina camada de capacidade de diálogo e de conhecimento levou a aceitar em 2005 inscrever no contrato-programa olímpico 5 medalhas mas a rotura desse comprometimento surge com a impossibilidade de manter um diálogo científico e técnico consistente e prolongado no tempo com consequências nos comportamentos e na construção das novas estruturas.

Em consequência o enxerto das 5 medalhas apodrece num tecido associativo e de governança que resiste à pressão de introdução de pontuais como ao uso de um indicador de performance.

A média de produção olímpica europeia faz-se com novas estruturas que Portugal nunca teve de forma integrada e também nunca conseguiu caminhar determinadamente num sentido europeu.

Obviamente o estudo encomendado a uma multinacional vai ser contestado e quem de direito vai ouvir o direito de quem sabe o cheiro do balneário como foi recentemente demonstrado ser uma preocupação e gastaram-se mais uns dinheiros para chegar a lado nenhum e tudo permanecer na mesma.

É neste caldo de cultura reactivo por natureza, de líderes insuspeitos por função e nível de responsabilidade que está entregue o futuro do desporto português.

O Desporto e a corrupção


Segundo a TVI24 "Para Paulo Morais, há vinte anos que os políticos andam a roubar o Estado. «A dívida pública foi criada ao longo de 20 anos porque sucessivamente houve muita gente que andou a roubar dinheiro do orçamento do Estado»."

A meio da entrevista Paulo Morais refere como exemplo da corrupção generalizada em Portugal o Euro 2004.

A hipótese da ineficiência do Euro 2004 nunca tinha sido colocada nestes termos de corrupção.

Ou seja, o estado anémico do desporto acaba por impedir o esclarecimento da situação do desporto e arrasta-o para as piores suspeitas que a situação do país agudiza ainda mais.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Estive numa tomada de posse e confirmei dados estruturais

À sua margem felicitei o presidente cessante pelo bom trabalho realizado.

Há um trabalho digno de nota em múltiplas instituições e organizações desportivas nacionais.

As exigências do futuro justificam um trabalho diverso do passado a fim de construir sobre terreno firme o que apenas se alcança com um bom trabalho de diálogo e consenso sobre princípios e sobre boa ciência e técnica.

Estou convicto pela realidade observada que os conteúdos correntes se alicerçam em procedimentos passados por formais que sejam ou por retóricas com que se coloquem.

A dignidade do passado devendo ser respeitada e enaltecida não deve sufocar o nascimento do novo para o futuro.

Este futuro que é o nosso e principalmente para os nossos filhos deve fazer-se de mais futuro e de menos passado.

O passado falhou em múltiplos aspectos que são hoje patentes mesmo quando se evita falar dele nos discursos e se dê nota da atenção para o business as usual mesmo que por protagonismos recentes.

Respeito a geração e os líderes que saem tanto quanto as novas e procuro estruturar as características do seu comportamento no seio de um modelo abstracto o Modelo Português de Desporto de que ninguém fala ou reconhece a existência.

O não reconhecer a existência do Modelo Português de Desporto é tão-só uma das características nucleares do comportamento dos líderes de opinião e dos de organizações e instituições desportivas nacionais.

Há um mundo de coisas novas para fazer e afinal desde há alguns meses a esta parte que a mudança de protagonistas não gera política desportiva nacional inovadora e com capacidade de trazer futuro e essa limitação tende a prolongar-se no tempo.

Começo a ter para mim que a nova geração tendo nascido e crescido num caldo de cultura de características que reduzem o desporto cada vez mais a zero vai dar-se mal.

Ouvi num sítio dizer que foi graças a uma reunião que determinado documento foi melhorado.

Essa pode ser a confissão da fragilidade das condições de trabalho ou então quem liderava tinha-se rodeado de competências capazes de suportar qualquer pequena reunião. Ponho isto como hipótese e não o dou como adquirido.

Ao processo de rotação geracional falta diálogo, democracia, capacidade de liderança, ciência, técnica e, numa palavra, futuro.

A realidade do desporto português está a transformar-se profundamente em condições distintas do passado e esses graus de liberdade e condicionalismo estão em aberto.

Isabel Jonet, Pacheco Pereira e o desporto têm muito a ver

Desde que iniciei a tese de doutoramento os seus caminhos levaram-me para os limites da economia e das possibilidades abertas e fechadas que a teoria económica feita na Europa e no mundo beneficiavam um Modelo de Desporto com as características do português.

Agora o artigo de Pacheco Pereira, que se pode ver no Abrupto, sobre a caridade de Isabel Jonet tem dimensões que me preocupam no Modelo Português de Desporto e que elucidam margens por onde o nosso desporto se perde.

De momento não tenho disposição, ..., como ligar estas coisas mas deixo a nota da possibilidade da sua existência. É uma matéria estrutural, preocupante pelas suas limitações e cujas respostas têm de ser aprofundadas.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Só um Modelo de Desporto falido não apreende a dimensão trágica da Vanessa

O apelo de hoje à volta da Vanessa é pungente e trágico.

Caso o seu autor seja o paradigma dos novos líderes desportivos nacionais isso aponta para novos erros de consequências imprevisíveis.

A impreparação que hoje ficou patente coincidirá com a inexistência do debate institucional o qual deixa os elementos menos voltados para os desafios profundos a agir segundo o senso comum.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

DO REAL COLÉGIO DE NOBRES NA 7.ª COLINA DE LISBOA E DO COLÉGIO EM FONTENAY-AUX-ROSES A 7 KMS DE PARIS

Post publicado no De Rerum Natura em 01.12.2012



I – Real Colégio de Nobres



No reinado de D. João V, na Gazeta de Lisboa Ocidental n.º 1, 07.01.1740, ainda se pode  ler que na “Sexta feira primeiro dia do ano foi a Rainha nossa Senhora ao sítio da Cotovia  visitar a Igreja do Noviciado dos Padres da Companhia de Jesus, onde se achava o Lausperene”, retratando simbolicamente o louvor perene da Monarquia absoluta à Igreja, mesmo inseridos os actores da Ordem dos Jesuítas, ou seja, a aliança perene entre Estado e Igreja.



É verdade, como afirma Habermas, que “a separação cada vez maior entre as esferas  pública e privada” terá feito com que o Rei, “concentrando o poder em suas mãos, passasse a necessitar do reconhecimento público de sua dominação”. O que parecia insuficiente não fosse a Igreja reforçá-la com a imagem de que todo o poder real derivava da sua entronização pelo poder de Deus, mais forte que um exército para manter a força do Rei. O que reforçava também, como retorno, o poder da Igreja. A pompa das procissões e a magnificência da Igreja e do Paço Real irmanavam-se nos símbolos do domínio.



No reinado de D. José, essa prática jurisdicional foi quebrada pelo regalismo pombalino, em dois tempos: primeiro, pelo decreto de 06.06.1758 que legalizava a criação da Direcção-Geral dos Estudos, com o objectivo de retirar a tutela do ensino aos jesuítas – como se os jesuítas só actuassem no campo educacional –, e, no segundo tempo, em lentas doses, dá como  provadas as acusações à Companhia de Jesus, ordena o total sequestro dos bens móveis e  de  raiz dos seus padres, proíbe-os de confessar e pregar, quer nos noviciados quer no Paço Real, extingue as escolas reguladas pelo fundador da Societas Iesu, para criar o ensino secundário – como se ele não existisse –, e finalmente, pelo decreto de 03.09.1759, expulsa a Companhia de Jesus, donde resultou, pelo normativo de 25.12.1761, a incorporação de todos os bens seculares na Coroa. Estava dado o primeiro passo para a secularização do ensino atribuindo ao Estado a responsabilidade da instrução pública, separando a Igreja do Estado, pelo menos nesta matéria. 




Fique assente que os jesuítas eram avançados para a sua época, não desconheciam o Verdadeiro método de Vernei – a mesma obra que também servirá ao Marquês de Pombal para fundamentar o ensino no Real Colégio de Nobres – nem as obras de Locke e de Descartes, e as suas escolas espalhadas pela Europa configuravam um iluminismo traduzido pelas fontes mais modernas da época colhidas pelos jesuítas nas diversas capitais onde exerciam o seu magistério, patentes na rica biblioteca do noviciado jesuíta da Cotovia que o Real Colégio herdaria. Com a expulsão dos jesuítas, Portugal ficou sem os respectivos professores das 34 faculdades e dos 17 colégios por eles criados.

Mas, enfim, com aquelas medidas pombalinas já foi possível – como se antes, algo o tivesse  impedido – criar o Real Colégio de Nobres – inspirado nos Apontamentos para a educação de um menino nobre, que para seu uso particular faz, de Martinho de Mendonça de Pina e Proença (1693-1743),  nas Cartas sobre a educação da mocidade, de Ribeiro Sanches (1699-1783), e nos Tomo I  e  Tomo II  do Verdadeiro método de Estudar, de Luís António Vernei (1713-1792) – e regular os respectivos estatutos, pela Carta de Lei de 07.03.1761. Mas o Colégio só abriria em 19.02.1766, com um discurso do prefeito dos estudos seguindo-se o juramento, do prefeito, do vice-prefeito, e dos 24 alunos já matriculados, de defender a Imaculada Conceição da Virgem Maria.   


Na possibilidade de defenderem a Imaculada Conceição pouco ficou para defenderem o bom funcionamento do Colégio. Entre a sua criação e a abertura do mesmo, no decurso de cinco anos Pombal aproveitou-os para contratar professores estrangeiros conforme conselho de Ribeiro Sanches, até porque em Portugal não os havia em determinadas matérias como a Física e a Matemática. Estrangeiros eram já o prefeito, o médico e o cirurgião, mas faltavam os de Francês, Italiano, História, Arquitectura, Física e Esgrima. Da dança, contratou-se um italiano que, pelas faltas que dava obrigou a um normativo  estipulando multas a aplicar. A picaria teve um mestre picador português a partir de 1790. Para a esgrima contratou-se um francês que, à data da abertura, juntamente com um italiano de Matemática, entrado em 1862, eram os únicos que estavam presentes. O de Física, italiano, também chegado em 1862, depois de esperar três anos pela abertura, desistiu e voltou para Itália. O professor de História só foi possível em 1773, e os de Francês e Inglês só vieram em 1875, ficando vagos os lugares de Arquitectura e Italiano. Para grego e latim, dois irlandeses. Uma torre de Babel em línguas: francês, inglês e italiano, para meninos dos 7 aos 13 anos. 


                                   
 O antigo noviciado jesuíta da Cotovia, depois Real Colégio de Nobres  
                                                                              (Fonte: portal Restos de Colecção)



Picadeiro e cavalariças do Colégio de Nobres, construídos
possivelmente em 1766, data da abertura do Colégio.
Fica situado em frente da Imprensa Nacional
(Fonte: Marcas das Ciências e das Técnicas) 


                                                                                                         
Picadeiro à esquerda dentro do quadrado e
a Escola Politécnica à direita com o Jardim Botânico
(Fonte: Picadeiro do Colégio de Nobres)
   

Independentemente desta arquitectura um tanto ou quanto falhada, o colégio teve alguns percalços em matéria disciplinar, não se sabe se desmotivados os alunos pelos idiomas dos professores, igualmente desmotivados pelo desinteresse consequente daqueles, donde resultou a publicação de um alvará para impor a disciplina. A norma não teve os efeitos esperados porque o professor italiano de Aritmética que se iniciou no 3.º ano, abandonou o magistério no ano escolar seguinte e voltou para o país de origem; no 4.º ano ocorreu o mesmo com os professores italianos de Álgebra e Física que abandonaram o Colégio no ano seguinte, em virtude de aos alunos faltarem as bases da matemática. Este abandono parece ter ainda como causa, além da desmotivação mútua de professores e alunos, os atrasos nos vencimentos, em meses, uns, e alguns em anos, outros.

Rómulo de Carvalho é bastante explícito ao referir que:

 No 5.º ano (1769-1770) a desordem era completa; no 6.º ano (1770-1771) é aberta uma devassa ao funcionamento do Colégio; no decurso do 7.º ano (1771-1772) é publicado um alvará reformando a escola, e em 10 de Novembro de 1772 é abolido nela o ensino das disciplinas científicas que já não se praticavam e com as quais se acabou de vez. (História do Ensino em Portugal, 2.ª ed., 1996, p. 451, ed. Fundação Calouste Gulbenkian).

À expulsão dos jesuítas pela desactualização do ensino, segundo Pombal, seguiu-se o fracasso do Real Colégio de Nobres, que pouco mais fez, o que obrigou à revisão do campo da educação, expressando-se no alvará de 04.06.1771 que de futuro é “cometida à Real Mesa Censória toda a Administração, e Direcção dos Estudos das Escolas Menores destes Reinos, e seus domínios; incluindo nesta Administração, e Direcção não só o Real Colégio de Nobres, mas todos, e quaisquer outros Colégios, e Magistérios… Desta feita, estendido o manto do poder a todos os colégios, diluía-se o fracasso do Colégio de Nobres, acentuando o Alvará de 13.03.1772 que, devido à má administração do mesmo, encarrega a Real Mesa Censória da venda, por bons preços, de bens do Colégio de Nobres. Idêntica medida tomaram os constituintes liberais ao estipular, depois do incêndio de 22.04.1843, decorridos que foram dois meses, pela lei de 28.06.1843, determinava que é autorizado o governo para vender os bens que eram administrados pelo extinto Colégio de Nobres, e hoje administra a Escola Politécnica, ou para contratar seus rendimentos, e com aplicação destes o empréstimo da quantia que for necessária… à reconstrução do respectivo edifício (…).

Mas Pombal esclarece esmiuçadamente as causas da decadência do Real Colégio e as medidas adequadas em normativo da mesma data, no mesmo Alvará de 13.03.1772.

Para Camilo Castelo Branco, no curso de Literatura Portuguesa (1876), o Real Colégio de Nobre teria passado por duas fases: 
A primeira, desde 1761 a 1772, teria funcionado como um liceu, e ao mesmo tempo como uma academia, destinada a proporcionar conhecimentos especiais de navegação,  fortificação e arquitectura civil.
A segunda, de 1772 a 1837, teria funcionado mais modestamente, com o carácter de um iceu, embora especial e privativo de uma classe de alunos, dita ptivilegiada.

E, para esvanecer o fracasso do Colégio, a Real Mesa Censória apresentou o relatório das inspecções feitas aos colégios e cuja redacção o apaga de vez: Sendo fatal o estrago causado nas Escolas Menores deste Reino pela negligência e educação positivamente má dos jesuítas a que elas foram confiadas…

Com o advento do Liberalismo e a instituição da Monarquia Constitucional que, na concepção de Oliveira Martins “mais não era do que uma república com uma presidência hereditária”, os constituintes nortearam o seu combate às mercês e aos privilégios régios pelo que, além da extinção das ordens religiosas e a venda dos bens do clero ordenou, pelo Decreto de 04.01.1837, abolir o Colégio, afirmando-se no respectivo preâmbulo que Sendo o Real Colégio de  Nobres uma instituição que não está em harmonia com a Constituição Política da Monarquia, em razão de ser seu instituto uma escola privilegiada; e devendo colocar-se no respectivo edifício as escolas que vão ser organizadas, decretava que os edifícios, equipamentos e rendimentos ficassem disponíveis para outras escolas. Oito dias depois era criada a Escola Politécnica de Lisboa, instituição que herdou o imóvel, rendimentos e equipamentos.

          Escola Politécnica   

Em 22.04.1843, o fogo destruiu e reduziu a escombros o Colégio de Nobres, onde estavam estabelecidas as Escolas Politécnica e do Exército que tiveram de instalar-se em locais diferentes e distantes.

Mas, tal como uma Fénix, a Escola de Nobres  ressuscitará em  Fontenay-aux-Roses, a sete quilómetros de Paris.

Fontes:
(1840) Portelli, José; Saraiva, José; Henriques, José, Cópia de um ofício dirigido pela
            Junta de Fazenda do abolido Colégio Real de Nobres a S. Ex.ª o Ministro e
           Secretário de Estado  dos Negócios da Guerra, Lisboa: na Tipografia da
          Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis.
(1841) Herculano, Alexandre, "Da Escola Politécnica e do Colégio dos Nobres", in Opúsculos, Tomo VIII,
           Questões Públicas, Tomo V , 1.ª ed., Lisboa: Tavares Cardoso & Irmão Editores
          Tomo I, Lisboa: Tipografia da Academia Real das Ciências [pp 282-295}
(1872)  id.ibid., Tomo II, id.ibid.  [pp 97-101]
(1876) id.ibid.Tomo VI,  id.ibid. [pp 25 e 26; e 320-331]
(1876) Branco, Camilo Castelo, Curso de Literatura Portuguesa, Lisboa: Livraria Editora de
            Matos Moreira & C.ª. (Nota: Este autor considerava que a primeira fase do Colégio, de
           1761 a 1772, configurava um liceu, destinado a proporcionar conhecimentos, e a
           segunda fase, de 1772 a 1837, considerava-o mais modesto, apesar de liceu, mas
           privado por destinado a alunos privilegiados.)
(1878) Ribeiro, José SilvestreTomo VII, ibid. [pp.129-134] 
(1995) Marques, A.H.de Oliveira Breve História de Portugal, 1.ª ed., Lisboa: Editora
               Presença
(1996) Carvalho, Rómulo de História do Ensino em Portugal, 2.ª ed., Lisboa: Fundação
               Gulbenkian
(2010) Ramos, Rui História de Portugal, 3.ª ed, Lisboa: A Esfera dos Livros 

DO REAL COLÉGIO DE NOBRES NA 7.ª COLINA DE LISBOA E DO COLÉGIO EM FONTENAY-AUX-ROSES A 7 KMS DE PARIS – 2.ª PARTE

Post publicado no De Rerum Natura em 11.12.2012

Colégio de Fontenay-aux-Roses - 2
A história é uma dialéctica da duração
F. Braudel

O decreto de 04.01.1837 publicado pelos liberais aboliu o Real Colégio de Nobres para acabar com as desigualdades, como é norma em mudanças de regime, com a consequente de criação de outras desigualdades por outra norma, pois é assim que Passos Manuel, ao pretender o edifício do Real Colégio, depois de reformado, para Liceu de Lisboa, pelo decreto de 17.11.1836 proporciona idêntica preparação em todos os liceus, mas haverá dois liceus com desigualdades outras – e daí talvez o fracasso do programa de Passos – em Lisboa, estipuladas nestes artigos:

Art.º 44.º - Nos Liceus de Lisboa, Porto e Coimbra haverá mais duas Cadeiras especiais, uma de Língua Grega, outra de Língua Alemã. Num dos liceus de Lisboa haverá mais as Disciplinas de Diplomática, Paleografia, e Taquigrafia.

Art.º 45.º - À proporção que se forem estabelecendo os Liceus nos respectivos Distritos, ficarão neles extintas as mais Cadeiras de Grego, Latim, Retórica, e Filosofia Racional e Moral, Aritmética, Geometria, Geografia e História.

Costa Cabral, por sua vez, pelo decreto de 10.04.1860, cria dois indesejados tipos de desigualdades em liceus: nos de 1.ª classe (Lisboa, Coimbra, Porto, Braga, Évora), curso de 6 anos, haverá, para reger 6 cadeiras, 6 professores regendo cada um a sua cadeira, e nos de 2.ª classe (restantes distritos), curso de 4 anos, haverá apenas 3 professores, regendo cada um duas cadeiras.

Temos assim que os beneficiados liceus da capital igualavam o Real Colégio de Nobres, porque se este se destinava a preencher os salões da aristocracia e da nobreza, aqueles preencheriam os dos burgueses e da elite ulissiponense. Se é permitido poderá então dizer-se, metaforicamente, pela via gramatical, os Liceus e o Real Colégio dos Nobres eram instituições parónimas porque se escreviam de maneira diferente mas tinham a mesma pronúncia, para o trato mundano.

Não se sabe se as intenções do deputado por Lamego, José Manuel Botelho, se inscreviam nesta similitude paronímica, ao apresentar na Câmara Electiva, em 06.08.1840, o projecto de lei n.º 58A, tendente a restabelecer o Colégio de Nobres e a extinguir a Escola Politécnica, alcance que clarificou no 1.º art.º quando estipula que fica revogado e de nenhum efeito o Decreto de 4 de Janeiro de 1837, que suprimiu o Colégio dos Nobres, o qual será restituído, e posto no mesmo estado, em que se achava antes da promulgação daquele Decreto, e revogando no art.º 2.º o decreto que substituía o Colégio pela Escola Politécnica (DG n.º 229, 26.09.1840, pp 1263-1365).

Na Sessão de 25.09.1840 das Cortes da Câmara dos Deputados, esta proposta foi fortemente contestada pelo Parecer da Comissão de Instrução Pública sobre o Projecto de Lei n.º 58 A, justificando a sua total rejeição, assim como, com mais acutilância, por Alexandre Herculano que, apesar de ser um dos relatores do Parecer, optou por alargar a sua opinião, num dos seus Opúsculos, com o título Da Escola Politécnica e do Colégio dos Nobres , a pp. 27-106, a propósito de um papel impresso assinado pelo deputado da Comissão de Prémios, José António David Henriques, datado de 31.12.1840, com o título de Análise ao Parecer da Comissão de Instrução Pública da Câmara dos Senhores Deputados, contestando o parecer e apoiando o projecto de Lei de José Botelho. O incêndio do edifício da Escola de Nobres, em 1843, apagaria de vez o problema.

 Falhada esta oportunidade a nível interno, restaria a de encontrá-la algures, em regime monárquico, assim como alunos portugueses e professores, que congregassem ou simulassem o extinto Colégio de Nobres, reorganizado por um reitor responsável e competente, ainda que não para formar nobres, mas a outra face de Janus, a elite cosmopolita, para manter o valor da paronímia.

A primeira condição, para encontrar algum paralelismo com o extinto Colégio de Nobres, exigiria o mesmo regime político em que o mesmo tinha sido criado mas, desta feita, apesar de em França, a formação não contemplaria os gauleses, mas as gentes lusitanas e brasileiras que tiveram a ideia de um colégio exclusivo. Quis o acaso, ou as circunstâncias, que fosse a Monarquia Constitucional francesa, o regime do momento, e não a absoluta, pelo que o primeiro requisito não estava preenchido. Mas esta contradição insere-se noutras contradições de que contas se darão.


A primeira residiu na criação do Colégio Luso-Brasileiro, em 1838, por Frei José da Sacra Família – sobre proposta de alunos portugueses e brasileiros como adiante se explicará – que denominou de D. Pedro de Alcântara por mercê de sua majestade o imperador do Brasil, D. Pedro II[1], isto é, de regime liberal, a funcionar na francesa monarquia constitucional. A segunda incidiu na ubiquidade de Frei José, acérrimo apoiante do absolutista D. Miguel, do qual foi companheiro e seu secretário, no exílio, e em antinomia presenteia agora o apoio do liberal D. Pedro II, ao acrescentar o nome, Colégio Luso-Brasileiro D. Pedro de Alcântara. Como Deus é considerado ubíquo por ter o dom de estar presente em toda a parte, Frei José, de nome José da Silva Tavares (1788-1858) intuiria o mesmo dom em termos de vida prática. É de considerar que, para fugir a estas aleivosias, e como emigrara de Portugal, em 1835, por desafecto à causa da rainha, obteve o breve de secularização, passando a ser o laico Doutor José da Silva Tavares. 


José da Silva Tavares
Doutor em Theologia, Fundador e Director de
Collegio Portuguez e Brasileiro em
Fontenay-aux-roses em Paris

(Fonte: Biblioteca Nacional Digital )


 


Em França, na nova posição de professor teve a seu cargo a educação de dois nobres mancebos que posteriormente teriam desempenhado cargos de responsabilidade em Portugal. Dos resultados honrosos desta missão resultou ter sido convidado para dirigir o Pritaneo de Menars, inaugurado em 1832, onde havia duas escolas, uma para ricos, o Pritaneum, au Château de Menars, e outra para pobres, a École des Arts et du Commerce [2]. Havendo uma secção de alunos portugueses e brasileiros, deles partiu a ideia de propor ao então professor e director do Pritaneo, Dr. José da Silva Tavares, a criação de um colégio para portugueses e brasileiros, a que o mesmo logo acedeu.



O Château de Menars é um palácio francês associado a  
Madame de Pompadour que, depois da sua morte em 1764, 
se manteve sempre intacto. Fica situado na margem do


Faltava encontrar o local e o imóvel. O local sugerido foi Fontenay-aux-Roses, a 7 kms de Paris, desconhecendo as razões desta escolha, aventa-se a hipótese de ter havido conhecimento de que ali teriam vivido brasileiros, proprietários de terrenos.

Collège Sainte-Barbe onde funcionou o
Colégio Luso-Brasileiro D. Pedro de Alcântara

O terreno do futuro colégio de Sr.ª Bárbara era de brasileiros que o teriam vendido em 1823 à família Morin para construir o colégio com aquele nome, que fechou em 1831. Vago o Colégio St.ª Bárbara, serviu para nele se instalarem alunos portugueses e brasileiros, com o Dr. José da Silva Tavares à frente da instituição, acompanhado dos professores, Majores do exército realista, Fonseca e Lobo; Manuel Moreira Coelho, posteriormente vice-cônsul de Portugal em Paris; Manuel Correia de Abreu que, regressado a Portugal, fundou dois colégios, um em Valongo, outro em Landim; e António José Viale, que, no regresso a Portugal, foi nomeado Conservador da BNL, e professor de literatura no Curso Superior de Letras, segundo Luís de Pina [3], que acrescenta ter sido o abastado português Luiz António Esteves Freire quem muito contribuiu em dinheiro para a sua instalação. O brasileiro  Camilo de Monserrate [4] também exerceu o seu magistério em línguas e ciências, transferindo-se mais tarde para o Pritaneo de Menars, voltando posteriormente para o Brasil.

Acrescem os professores franceses que também exerceram o seu magistério no Colégio, a saber: Luís Delattre, médico, conhecido como linguista; Carlos Brasseur de Bourbourg que se debruçou sobre a antiguidade da México e do Peru; Clean, sobre literatura, e Genty, sobre poesia. Um professor inglês, Murray, autor do Elegant Extracts of English Writers; outro espanhol Barbagero, que traduziu para castelhano os Martyres de Chateaubriand. E ainda o alemão barão de Tautphoens, professor de língua grega.

Preenchidos todos os requisitos, a 17 de Novembro de 1838 abriu o Colégio Luso-Brasileiro D. Pedro de Alcântara, que adquiriu um reconhecimento de tal ordem que acabou por admitir também alunos franceses, tendo encerrado as portas por dificuldades económicas acrescidas, em 1843. Na História dos Estabelecimentos Científicos, Literários e Artísticos, vol. IX, a pp.41, lê-se: Dificuldades financeiras, procedidas em grande parte do génio mais desinteressado e generoso que precatado e previdente do Doutor Tavares, e a que ele não teve força bastante para resistir, o obrigaram, em Setembro de 1843, a fechar o colégio que fora objecto de tantas suas fadigas, e de tantos seus esforços em proveito de uma sã educação moral e literária.

Teve uma frequência cosmopolita, tal como os dois filhos da Infanta Ana de Jesus Maria, e os dos Marqueses de Loulé, Valença e Castelo Melhor, grandes senhores liberais, do Conde de Farrobo, 4 filhos do Barão de Santos, banqueiros liberais, dois irmãos José Alberto Allen do Porto [5], e ainda João Ferreira dos Santos Silva, banqueiro brasileiro que, em 1840 entrara com três irmãos para o Colégio de Fontenay-aux-Roses, onde igualmente estudou o futuro matemático e filósofo Pedro de Amorim Viana. Igualmente André Francisco de Canto e Castro, que já frequentara o Prytanée du Château de Menars, ou seja o Colégio dos ricos. Segundo Filomena Mónica, Carlos Santos Silva, um dos dirigentes da empresa Cometna, também terá estudado no Colégio de Fontenay[6]

Também da Ilha de S. Miguel (Açores), em 1838, entrou José do Canto, para o Colégio de Fontenay, mas em 1840 optou pela Universidade de Coimbra.

A lista não é exaustiva mas dá uma ideia do nível social das pessoas que frequentaram o Colégio de Fontenay-aux-Roses Pedro, bem como do nível de excelência do ensino nele ministrado e reconhecido pela Université de France, como se poderá ver nas disciplinas destinadas aos dez ou doze alunos, portugueses e brasileiros, chegando aos 73, incluindo 14 ou 15 franceses, que o frequentaram:

Leitura, escrita, cálculo
Línguas: Latina, grega, francesa, portuguesa, espanhola, inglesa, iraliana, alemã
Geografia
    Geral: antiga, da idade média, moderna
    Especial: da França, de Portugal, do Brasil, da Espanha, da Inglaterra, da Alemanha
História: Sagrada e eclesiástica
    Geral: antiga, da idade média, moderna
    Especial: de França, Portugal, Espanha, Brasil, Inglaterra, Itália, Alemanha
Literária: geral; de França, de Portugal,  do Brasil, de Espanha, de Inglaterra, de Itália,    
      da Alemanha
Retórica
Matemáticas: aritmética; geometria; álgebra; trigonometria
Filosofia
Elementos de: física; química; zoologia; mineralogia; botânica; geologia
Desenho: linear, de figura, de paisagem, de litografia, de arquitectura
Pintura
Ginástica
Dança
Esgrima
Equitação
Natação
Música:
    Vocal: solfejo, canto
    Instrumental: piano, rebeca, flauta, etc.

 O custo anual a cada aluno, em regime de internato, era de 1200 francos, ou seja, na moeda actual 9.804 euros. Na época, cada franco equivalia a 8,17 euros.

[1] (1975) José-Augusto França, no seu trabalho Le Romantisme au Portugal: étude des faits sócio-culturels (Paris: ed. Klincksieck), refere a pp 91 que «Frei José da Sacra-Família avait eu lídée d’installer en 1838, à Fontenay-aux-Roses, le Colégio Luso-Bradileiro de D. Pedro de Alcântara, lui donnant tactiquement le nom du roi libéral» , sem indicar se seria D.Pedro I, do Brasil (D.Pedro IV de Portugal), ou o seu filho D.Pedro II do Brasil, porque acontece que tanto um como o outro têm o nome de Pedro de Alcântara, seguindo-se uma longa lista. Nestes termos D.Pedro I (IV de Portugal) era Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon; e o seu filho, D. Pedro II era Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga. A certeza de foi D. Pedro II está inscrita na História dos Estabelecimentos Científicos Literários e Artísticos, a pp 37.   
  [2] (1834) In The Quarterly Journal of Education, vol VII, January-April, London: ed Under de Superintendence of the Society for the Diffusion of Useful Knowlefdge. A École des Arts et du Commerce, em 1848 é transformada em École Industrielle.
  [3] (1936) Portugueses Mestres no estrangeiro, in Anais da Faculdade de Ciências do Porto, vol. XXII, Porto: Imprensa Portuguesa, (p. 65).
  [4] (1993) In Dicionário Bibliográfico Brasileiro de Augusto Victorino Alves Sacramento Blake, Rio de Janeiro: Tipografia Nacional 2.º vol., p. 19.
  [5] (1975) Apud José-Augusto França, op. cit.
  [6] (1987) "Capitalistas e industriais", in Análise Social, Lisboa: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, vol. XXIII (99).