quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Albert Soler e o exemplo do desporto espanhol

As eleições de 20 de novembro trouxeram uma mudança de Governo no país vizinho. Após 7 anos de governação, o PSOE de Zapatero sabia à partida das dificuldades em manter o exercício do poder, tendo em conta a crescente contestação social de que foram sendo alvo nos últimos meses.

Contudo, no que toca à Política desportiva, o Governo socialista deixou obra feita. Incontestavelmente.

No desporto de Alta Competição os resultados destacáveis foram uma constante. As seleções espanholas garantiram títulos europeus e mundiais nas modalidades coletivas mais mediáticas (Futebol, Andebol, Basquetebol), bem como apresenta atletas de referência em diferentes modalidades individuais (Ténis e Automobilismo como as mais populares). Além destas, obtiveram resultados de primeira linha em praticamente todas as modalidades em que estão implicados.

Mas não só de Alta Competição se faz o desporto em Espanha. Em 2009 foi lançado o Plan Integral para la Actividad Física y el Deporte (Plan A+D), cujo projecto foi elaborado pela tutela em colaboração com os diferentes experts académicos. Este Plano articula a visão macro do Estado desportivo com as diferentes realidades locais e sociais. Baseado no diagnóstico dos hábitos de prática da população espanhola foram estabelecidas 8 áreas prioritárias de intervenção (Saúde, Trabalho, 3ª Idade, Mulher, Escola, Universidade, Inclusão Social e Deficiência) e reconhecidas 100 medidas relacionadas, cuja concretização deverá ser levada a cabo até 2020 em articulação com as Comunidades Autónomas, Municipios e todo o Universo desportivo espanhol.

Cada uma destas medidas discrimina os recursos, as parcerias as tarefas e o calendário considerados para a sua aplicação. 2 anos após o seu nascimento, o Plan A+D tem cumprido o proposto tal como consultável no site respetivo (www.planamasd.es), independentemente do presente cenário de crise.

Estes resultados não são coincidência. Jaime Lissavetsky foi uma figura fundamental na representação tutelar enquanto Secretário de Estado do Desporto, acompanhado por Albert Soler como Diretor Geral do Consejo Superior de Deportes (CSD) desde 2008, o qual assumiu a Secretaria de Estado em 2010 após a renuncia de Lissavetsky com vista à candidatura à Alcaldia de Madrid que viria a perder. Albert Soler, funcionário de carreira no Ajuntament de Barcelona (Câmara Municipal de Barcelona), é licenciado em Ciências da Atividade Física e do Desporto no INEFC de Barcelona e foi Diretor do Institut Barcelona Esports (Instituto Municipal de Desporto de Barcelona) desde a sua criação em 2006 até 2008, quando assumiu a Direção Geral do CSD. Mais tarde, após a renuncia de Lissavetsky, viria a ser o primeiro Secretário de Estado formado em Desporto, bem como desportista assíduo (continua a participar e a treinar para as Maratonas populares de Barcelona e Madrid, além de ser ex-atleta internacional de Pólo Aquático).

Tive o prazer de trabalhar sob a coordenação de Albert Soler durante o tempo em que foi Diretor do Institut Barcelona Esports (integrei a equipa que com ele iniciou funções), tendo sido chefiado na Divisão de Promoção Desportiva por Marta Carranza que, também em 2008, foi convidada por Albert Soler para assumir a Direção do Departamento do CSD com o mesmo nome. Por este motivo, os projetos hoje desencadeados a nível Estatal partilham da visão de outros com caráter local levados a cabo com extremo sucesso na Barcelona pós-Olímpica.

Esta existência de uma visão para o desporto cuja coerência se manifesta em diferentes circunstâncias é um facto que, a meu ver, merece amplo destaque. Estamos perante técnicos (também eles académicos com colaboração constante em diferentes Universidades de fala hispânica) com formação na área e que possuem uma ampla visão acerca do papel social do desporto, das suas potencialidades, do que pretendem enquanto técnicos para o desenvolvimento do desporto e das pessoas através deste e que sabem situar-se proativamente nos contextos em que são colocados. O seu modus operandi é, assim, função dessa visão e as medidas profissionais que assumem representam atos estrategicamente integrados e que procuram dar resposta aos objetivos previamente definidos .

Neste seguimento, em finais de junho, Albert Soler fez um balanço positivo do seu tempo enquanto Secretário de Estado (e também Diretor Geral do CSD), regulando a sua intervenção em função de 5 objetivos considerados referenciais: Extensão da Prática Desportiva na Sociedade; Consolidação de Espanha como Potência Polidesportiva; Fortalecimento do Sistema Político-Desportivo existente; O Reforço do Desporto como Medida Preventiva da Sociedade e a Projeção Internacional do Desporto Nacional. São objetivos genéricos e simples mas cuja explicação se baseou em dados concretos, medidas já aplicadas e estatística comparativa relativamente ao passado e com indicadores referentes ao futuro. São objetivos que intervieram no planeamento desportivo nas suas diferentes manifestações práticas e cujos resultados o próprio destacou: atualmente, 16 milhões de pessoas praticam desporto em Espanha (45% dos cidadãos entre 15 e 65 anos – 20% mais do que em 1980), o 14º lugar que Espanha ocupa no ranking mundial (segundo os resultados da Alta Competição em Campeonatos Europeus e Mundiais), o desenvolvimento do Plan ADO (de preparação Olímpica e Paraolímpica), do ADOP (anti-dopagem) e a aplicação do já referido Plan A+D. Apontou também necessidades de reforço dos Centro de Alto Rendimento (multidesportivos), de intervenção na participação feminina, das pessoas portadoras de deficiência, na promoção de atividade física na 3ª idade, na regulação do desporto em idade escolar (integrando Desporto Escolar e Desporto Federado), no reconhecimento do Desporto como prática de inclusão e coesão social e urbana e do desporto enquanto agente de sustentabilidade ambiental. As medidas tomadas são públicas, operativas e estão disponíveis no site do CSD à distância de um click (www.csd.gob.es).

Recentemente, foi levada a cabo uma análise acerca da satisfação sobre o desempenho de Albert Soler tendo como amostra técnicos experts em diferentes dimensões desportivas. O seu percurso no CSD foi considerado positivo por 54,3% dos inquiridos. 36,2% não se pronunciou e apenas 7,6% opinou negativamente. Estes resultados são especialmente abonatórios se observarmos o estado de “desgraça” em que caiu o Partido ao qual Albert Soler está vinculado.

Só após a tomada de posse de Mariano Rajoy, em 21 de dezembro, será tornada pública a nova equipa de Governo. Albert Soler será, a partir de então, deputado no Congresso. Já Marta Carranza, devido a não ter vínculo nem interesse político regressará à base que foi sua até 2008: o Ajuntament de Barcelona e a Universitat de Barcelona, esta última a tempo parcial. Relativamente ao novo executivo, é certo que terá muito trabalho pela frente dada a atual situação socio-económica do Estado. No entanto, no que ao desporto diz respeito, terá uma “batata quente” na mão: o êxito já era uma realidade, pelo que a rutura não poderá ser a solução do PP para a política desportiva de Estado anteriormente assumida (o próprio programa eleitoral do PP, já aqui publicado, confirma esta assunção: não traz novidades de maior que já não estivessem detetadas e contempladas anteriormente). A verdadeira responsabilidade estará em não baixar a guarda.

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