O desporto vive da imagem das estrelas do futebol, numa dúplice imagética clubista suportada por media aguerridos.
A cultura
é mediaticamente eficaz, porém, prende-se à criação, pujança cultural e
autonomia criativa das suas estrelas e falta-lhes a base, a escola e o clube de
bairro dos últimos cidadãos urbanos e rurais. O mesmo terá feito Augusto Mateus
na sua avaliação da dimensão e viabilidade económica da cultura portuguesa. Não
se concebe que a cultura se destina a 100% da população portuguesa e que as
políticas de produção informal, recreativa e amadora são a origem e o bem
público das realizações dos maiores criadores.
Os
agentes da cultura falham a equidade, um fundamento equivalente ao desporto,
que justificaria uma orgânica diferente das soluções definidas no presente
governo. Criou-se a secretaria de Estado da cultura junto do Primeiro-Ministro
e fundiu-se o desporto e a juventude. Certo calculismo político impediu o país
de ir mais longe. No topo cultura e desporto parecem água e azeite na base
servem a população por inteiro.
O
desafio maior de Portugal é o da equidade através da criação de tecidos sociais
de produção viva e competitiva por parte de cidadãos iguais capazes de querer e
de dar os primeiros passos na produção cultural, desportiva, científica, e tudo
o mais, e que a sociedade e o Estado lhes dêem as condições para degrau a
degrau irem criando, consumindo e exigindo regras, comportamentos e resultados
cada vez mais absolutos apenas capazes pelos Josés Saramagos, Antónios
Damásios, Emanueis Nunes, Marias Joãos Pires, Josés Mourinhos e Cristianos
Ronaldos deste país.
Para
ficar rico e próspero, também através da cultura e do desporto, cada país do
norte da Europa investiu na equidade de toda a sua população. Vejamos um último
argumento: Ninguém, que não saiba o que é um fora de jogo, paga para ver um
jogo de futebol num estádio ou na televisão. Para os portugueses irem à Ópera e
consumirem o mais exigente dos autores culturais é necessário investir nas
necessidades culturais da totalidade da população portuguesa. 95% será
recreação, alguma será pimba, e 5% será sublime e viável economicamente se
relativa a 100% da população que seja consumidora de bens culturais.
Os opinion makers da cultura estão tão
presos ao seu sublime e respectivas catedrais como os do desporto ao seu Benfica,
Sporting e Porto.
A
equidade seria um objectivo de médio e longo prazo que Francisco José Viegas
não referiu na entrevista ao Público, 30/10/2011, e encontraria mais do que um complemento
no desporto através de políticas transversais à sociedade e economia.
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