sábado, 5 de novembro de 2011

Equidade para a cultura e o desporto

Artigo publicado no jornal Público de ontem 4 de Novembro de 2011.


O desporto vive da imagem das estrelas do futebol, numa dúplice imagética clubista suportada por media aguerridos.

A cultura é mediaticamente eficaz, porém, prende-se à criação, pujança cultural e autonomia criativa das suas estrelas e falta-lhes a base, a escola e o clube de bairro dos últimos cidadãos urbanos e rurais. O mesmo terá feito Augusto Mateus na sua avaliação da dimensão e viabilidade económica da cultura portuguesa. Não se concebe que a cultura se destina a 100% da população portuguesa e que as políticas de produção informal, recreativa e amadora são a origem e o bem público das realizações dos maiores criadores.

Os agentes da cultura falham a equidade, um fundamento equivalente ao desporto, que justificaria uma orgânica diferente das soluções definidas no presente governo. Criou-se a secretaria de Estado da cultura junto do Primeiro-Ministro e fundiu-se o desporto e a juventude. Certo calculismo político impediu o país de ir mais longe. No topo cultura e desporto parecem água e azeite na base servem a população por inteiro.

O desafio maior de Portugal é o da equidade através da criação de tecidos sociais de produção viva e competitiva por parte de cidadãos iguais capazes de querer e de dar os primeiros passos na produção cultural, desportiva, científica, e tudo o mais, e que a sociedade e o Estado lhes dêem as condições para degrau a degrau irem criando, consumindo e exigindo regras, comportamentos e resultados cada vez mais absolutos apenas capazes pelos Josés Saramagos, Antónios Damásios, Emanueis Nunes, Marias Joãos Pires, Josés Mourinhos e Cristianos Ronaldos deste país.

Para ficar rico e próspero, também através da cultura e do desporto, cada país do norte da Europa investiu na equidade de toda a sua população. Vejamos um último argumento: Ninguém, que não saiba o que é um fora de jogo, paga para ver um jogo de futebol num estádio ou na televisão. Para os portugueses irem à Ópera e consumirem o mais exigente dos autores culturais é necessário investir nas necessidades culturais da totalidade da população portuguesa. 95% será recreação, alguma será pimba, e 5% será sublime e viável economicamente se relativa a 100% da população que seja consumidora de bens culturais.

Os opinion makers da cultura estão tão presos ao seu sublime e respectivas catedrais como os do desporto ao seu Benfica, Sporting e Porto.

A equidade seria um objectivo de médio e longo prazo que Francisco José Viegas não referiu na entrevista ao Público, 30/10/2011, e encontraria mais do que um complemento no desporto através de políticas transversais à sociedade e economia.

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