O poste de JM Constantino 'O termómetro' levanta questões sobre os estudos que colocaria numa perspectiva sistémica relacionada com a produção e o consumo de estudos.
Falar da falta de comportamentos positivos relacionados com os estudos sem os relacionar com os índices de iliteracia desportiva que incorremos não corresponderá à realidade.
O actual governo resolveu atribuir a realização de estudos a grupos de trabalho, interpretando a sua iniciativa como inovadora. O governo anterior fazia os estudos pelos seus elementos de confiança política e no seio do CND.
Falta respeitar o trabalho dos outros e incentivar outros a produzirem estudos, o que não tem sido feito.
Mais importante ainda é a valorização de opiniões, estudos e análises surgidos da sociedade e isso parece impensável.
Os estudos são como o desporto não basta falar dele é necessário levar outros a produzi-lo e a consumi-lo ao desporto e aos estudos.
Os consumidores de estudos de desporto são a sociedade, as federações e os clubes, as empresas.
A questão fundamental que observo é a inexistência de uma estrutura de mercado no desporto capaz de produzir estudos e planos, discuti-los realçando os melhores e os bem feitos e exigindo mais a soluções menores.
É a inexistência dessa estrutura complexa, pública e privada, atravessando transversalmente universidade, parlamento, associativismo e empreendedorismo que rejeita estudos, consome-os apressadamente, enaltece peças inadequadas ou elogia a actual situação.
Sem a competitividade dos investigadores a procura de estudos ou faz-se apenas para os amigos e conhecidos, falo daquilo que se fez, ou faz-se para as pessoas caracterizadas pelo poste de JM Constantino.
Há investigadores e professores universitários a queixar-se das limitações dos estudos do desporto, nomeadamente na área das ciências sociais.
Compreenda-se que o labor de produzir e consumir estudos não se faz contra os poderes estabelecidos e tanto tem sido por eles destruído mesmo sem compreenderem que eles são perdedores certos em centenas e milhares de milhões de euros.
Como aferir a situação actual de vacuidade de estudos e capacidade de debate?
Pode observar-se em elementos materiais como:
- na dimensão desportiva, económica e social de outros países europeus e da distância a que Portugal se encontra.
- na incapacidade de ter documentos estruturais como os que já foram publicados e que são fracos como tem sido notado.
- nas entrevistas públicas e artigos dos líderes desportivos que são peças frágeis, que falam de si próprios e são incapazes de indicar objectivos, metas e estratégias, programas e projectos que respondam aos desafios colocados pela produção privada e pela pública.
- nas metas longuíssimas, para depois dos Jogos Olímpicos, que são as reformas para daqui a ano e meio sem haver a capacidade de saber como se vai resolver 2012 no desporto.
- nos problemas que as federações têm, como os actuais desafios da ginástica, e que, para esta federação e para tantas outras que vão ter eleições, ninguém sabe com que elementos de política se vão defrontar os candidatos e futuros líderes no resto da legislatura.
- no desconhecimento do que se passou no Conselho Nacional do Desporto em relação aos estudos feitos e debatidos na legislatura passada de que nada se conhece publicamente.
- no próprio acto descrito por JM Constantino de apresentação de um programa que foi politicamente desconsiderado.
- na inexistência de trabalhos continuados e fundamentais por parte do ex-IDP, o que poderá ser considerado como actos deliberados de sucessivas direcções da instituição e de secretarias de Estado durante décadas.
- na frágil relação entre a realização de estudos e a comunicação social.
- nas soluções sociais colocadas por não investigadores sociais e que contribuem para o aprofundar dos problemas do desporto nacional.
- na dificuldade imensa dos líderes desportivos virem à comunicação social e explicarem o seu potencial de milhares de milhões de euros e imputarem às medidas de anteriores legislaturas e das de austeridade débitos imensos que prejudicam os parceiros privados.
- ...
Não há soluções acabadas.
Existem, isso sim, necessidades urgentes e imenso trabalho que apenas líderes excepcionais que consigam estabelecer metas e fazer a cabeça de dirigentes, investigadores, empresários, políticos, autarcas orientando o desporto nacional para condições de competitividade consonantes com o que a Europa faz há muito e Portugal sempre tem contestado.
O desporto é composto por uma rede complexa de mercados de produtos desportivos dos ténis aos estudos, para abreviar, e que Portugal carece em toda a latitude do desporto moderno.
Em tempo: há o anónimo da folha A4 no Colectividade Desportiva. Os políticos e os decisores de facto necessitam de folhas A4 mas a economia e a sociedade necessitam de estudos e análises como o ar para respirar. O A4 explicará porque na legislatura anterior não se fizeram estudos mas a tendência vem de longe e os actuais grupos de trabalho são outra forma de negar o mercado da produção e do consumo dos estudos e do debate de ideias.
Não resisto a chamar à colação a hipótese dos bons políticos exigirem e trabalhar com mais do que folhas A4 dos seus fiéis. A apreciação das decisões positivas e negativas fá-la a história.
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