segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Um desporto faminto de estudos

O poste de JM Constantino 'O termómetro' levanta questões sobre os estudos que colocaria numa perspectiva sistémica relacionada com a produção e o consumo de estudos.

Falar da falta de comportamentos positivos relacionados com os estudos sem os relacionar com os índices de iliteracia desportiva que incorremos não corresponderá à realidade.

O actual governo resolveu atribuir a realização de estudos a grupos de trabalho, interpretando a sua iniciativa como inovadora. O governo anterior fazia os estudos pelos seus elementos de confiança política e no seio do CND.

Falta respeitar o trabalho dos outros e incentivar outros a produzirem estudos, o que não tem sido feito.

Mais importante ainda é a valorização de opiniões, estudos e análises surgidos da sociedade e isso parece impensável.

Os estudos são como o desporto não basta falar dele é necessário levar outros a produzi-lo e a consumi-lo ao desporto e aos estudos.

Os consumidores de estudos de desporto são a sociedade, as federações e os clubes, as empresas.

A questão fundamental que observo é a inexistência de uma estrutura de mercado no desporto capaz de produzir estudos e planos, discuti-los realçando os melhores e os bem feitos e exigindo mais a soluções menores.

É a inexistência dessa estrutura complexa, pública e privada, atravessando transversalmente universidade, parlamento, associativismo e empreendedorismo que rejeita estudos, consome-os apressadamente, enaltece peças inadequadas ou elogia a actual situação.

Sem a competitividade dos investigadores a procura de estudos ou faz-se apenas para os amigos e conhecidos, falo daquilo que se fez, ou faz-se para as pessoas caracterizadas pelo poste de JM Constantino.

Há investigadores e professores universitários a queixar-se das limitações dos estudos do desporto, nomeadamente na área das ciências sociais.

Compreenda-se que o labor de produzir e consumir estudos não se faz contra os poderes estabelecidos e tanto tem sido por eles destruído mesmo sem compreenderem que eles são perdedores certos em centenas e milhares de milhões de euros.

Como aferir a situação actual de vacuidade de estudos e capacidade de debate?

Pode observar-se em elementos materiais como:
  1. na dimensão desportiva, económica e social de outros países europeus e da distância a que Portugal se encontra.
  2. na incapacidade de ter documentos estruturais como os que já foram publicados e que são fracos como tem sido notado.
  3. nas entrevistas públicas e artigos dos líderes desportivos que são peças frágeis, que falam de si próprios e são incapazes de indicar objectivos, metas e estratégias, programas e projectos que respondam aos desafios colocados pela produção privada e pela pública.
  4. nas metas longuíssimas, para depois dos Jogos Olímpicos, que são as reformas para daqui a ano e meio sem haver a capacidade de saber como se vai resolver 2012 no desporto.
  5. nos problemas que as federações têm, como os actuais desafios da ginástica, e que, para esta federação e para tantas outras que vão ter eleições, ninguém sabe com que elementos de política se vão defrontar os candidatos e futuros líderes no resto da legislatura.
  6. no desconhecimento do que se passou no Conselho Nacional do Desporto em relação aos estudos feitos e debatidos na legislatura passada de que nada se conhece publicamente.
  7. no próprio acto descrito por JM Constantino de apresentação de um programa que foi politicamente desconsiderado.
  8. na inexistência de trabalhos continuados e fundamentais por parte do ex-IDP, o que poderá ser considerado como actos deliberados de sucessivas direcções da instituição e de secretarias de Estado durante décadas.
  9. na frágil relação entre a realização de estudos e a comunicação social.
  10. nas soluções sociais colocadas por não investigadores sociais e que contribuem para o aprofundar dos problemas do desporto nacional.
  11. na dificuldade imensa dos líderes desportivos virem à comunicação social e explicarem o seu potencial de milhares de milhões de euros e imputarem às medidas de anteriores legislaturas e das de austeridade débitos imensos que prejudicam os parceiros privados.
  12. ...
Não há soluções acabadas.

Existem, isso sim, necessidades urgentes e imenso trabalho que apenas líderes excepcionais que consigam estabelecer metas e fazer a cabeça de dirigentes, investigadores, empresários, políticos, autarcas orientando o desporto nacional para condições de competitividade consonantes com o que a Europa faz há muito e Portugal sempre tem contestado.

O desporto é composto por uma rede complexa de mercados de produtos desportivos dos ténis aos estudos, para abreviar, e que Portugal carece em toda a latitude do desporto moderno.



Em tempo: há o anónimo da folha A4 no Colectividade Desportiva. Os políticos e os decisores de facto necessitam de folhas A4 mas a economia e a sociedade necessitam de estudos e análises como o ar para respirar. O A4 explicará porque na legislatura anterior não se fizeram estudos mas a tendência vem de longe e os actuais grupos de trabalho são outra forma de negar o mercado da produção e do consumo dos estudos e do debate de ideias.

Não resisto a chamar à colação a hipótese dos bons políticos exigirem e trabalhar com mais do que folhas A4 dos seus fiéis. A apreciação das decisões positivas e negativas fá-la a história.

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