terça-feira, 19 de junho de 2012

A posição de Gustavo Pires* sobre a situação da Educação Física


A Mente Sã do Ministro da Educação

Como referia o jornal Público o Ministro da Educação e Ciência enterrou a velha máxima do poeta romano Juvenal “mens sana in corpore sano” que há mais de um século anima os prosélitos da Educação Física (EF) que não se conseguiram libertar do modelo de ginástica de Ling instituído no século XIX.

Mais vale tarde do que nunca porque a questão que o Ministro resolveu tem as suas raízes no 1º Congresso Olímpico realizado na cidade de Le Havre em França decorria o ano de 1897. Ao tempo, travou-se uma disputa de morte entre o pedagogo desportista de seu nome Pierre de Coubertin e o médico sanitário suecofílico de seu nome Philippe Tissié. Ora, a referida luta adentrou-se pelo século XX e, de tal maneira que, ainda hoje, provoca enormes prejuízos em muitos sistemas educativos e desportivos por esse mundo fora, incluindo Portugal.

O Ministro esteve bem. Tomou uma decisão de bom senso porque é possível apresentar inúmeros casos de jovens portugueses que caram privados de entrar no curso superior que desejavam por terem tido uma nota menos boa na disciplina de EF. Por exemplo, uma aluna que sendo atleta de natação com participação nos campeonatos nacionais da modalidade, não entrou em medicina por uma décima porque teve uma nota fraca à disciplina de EF.

É também uma questão de conceção da superestrutura ideológica da disciplina de EF. Na realidade, o modelo atual não permite a viabilização de um sistema de avaliação com alguma utilidade social. Hoje, o nome, os fundamentos e a substância da disciplina respondem muito mais a interesses corporativos do que aos interesses dos alunos, dos pais e do País.


Coubertin sabia que, com os sanitaristas suecofílicos, o Movimento Desportivo estava condenado. E, em 1911, escrevia-o: “le mens sana in corpore sano est excellemment hygiénique et nullement athlétique”. E, a m de os combater, propôs uma nova divisa com uma compleição eminentemente desportiva: “mens fervida in corpore lacertoso”, quer dizer, “um espírito ardente num corpo treinado”.

Contudo, Coubertin não conseguiu fazer passar a nova divisa. Os sanitaristas, representados pelos médicos, pelos militares e pelos professores de ginástica, estavam bem firmes na defesa dos seus interesses.

Depois, Coubertin só vira a conseguir que o Comité Olímpico Internacional adotasse o célebre “citius, altius, fortius” em 1923.


Para já, Nuno Crato revelou ter mente sã. O problema é que “uma andorinha não faz a primavera”. A primavera de uma verdadeira educação desportiva.


*Professor na FMH/UTL

publicado no Primeiro de Janeiro de 19/06/2012

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