quarta-feira, 18 de julho de 2012

A crise manchará a excelência do desporto espanhol?


A crise instalou-se com força em Espanha tal como antes já o fizera por aqui (e continua...), pelo que também em relação ao desporto, as novidades não são boas: o financiamento para o desporto municipal (a nível de “Ayuntamientos”) será este ano inferior em 28%, as “Diputaciones” (estrutura comarcal) também reduziram em 67% o seu orçamento desportivo desde 2008 e, por seu turno, as Comunidades Autónomas diminuiram em 51% o seu investimento para o desporto também desde 2008 (dados da revista Deportistas nº 44, 45 e 46 publicada pelo portal Munideporte.com).

Tenho alguma curiosidade em relação aos dados do desporto federado mas não encontrei valores concretos, apenas documentos de estudo delineando medidas futuras.

Do meu ponto de vista, a questão que se coloca perante esta nova realidade económica do desporto espanhol é se nuestros hermanos serão capazes de, com menos financiamento, manter o nível de excelência na promoção e fomento da prática desportiva e também a nível de resultados internacionais. É um caso diferente do nosso, porque com ou sem financiamento nunca sequer vislumbrámos a excelência.

Aquela frase proferida como pontapé de saída no discurso do Vereador do Desporto de Barcelona antes do jantar de Natal de 2008 dizendo “Caríssimos, temos dinheiro para gastar!” tem-me vindo à memória ultimamente.

Será possível fazer as mesmas coisas com a mesma qualidade e com menos dinheiro?

Eu diria que sim. Ainda que os dados económicos não espelhem esse meu otimismo.

Aparentemente, a organização estrutural montada com vista à organização dos JO 92 em Barcelona – e que reformou todo o desporto espanhol! – mantém-se com oxigénio suficiente para continuar a dar cartas. Trabalha-se com base em planeamentos estratégicos (ainda agora Barcelona lançou o novo Pla Estratègic de l'Esport 2012-2020), assume-se uma visão e uma missão articulada nos seus diferentes níveis e setores (veja-se a profundidade e alcance do Plan Integral de la Actividad Física y el Deporte em www.planamasd.es e note-se a frequência com que são realizadas e publicadas as diferentes ações perspetivadas) e há técnicos – e não tecnocratas – competentes nos lugares adequados que permitem a necessária qualidade e orientação dos processos inerentes. Acima de tudo, há cultura desportiva e esse fato torna-se por si só uma exigência para a manutenção dos níveis até aqui alcançados. O desporto não é fenómeno menor em termos de intervenção política nem o é, nas suas diferentes dimensões, em termos de opinião pública. E se observarmos a dinâmica que o CSD mantém (basta visitar o site), os próprios resultados das seleções jovens espanholas nas diferentes modalidades e os dados sobre participação desportiva que continuam a aumentar, o meu otimismo torna-se suportado por uma evidência elementar.

Já em relação à empregabilidade no desporto, o cenário Público apresenta-se bem mais negro e não se vislumbram caras novas nos próximos anos que possam ajudar a empurrar o carro. Mas disso não depende o sucesso desportivo, ou pelo menos, neste caso, dependerá em menor escala. 

4 comentários:

  1. Caro Fernando

    Não se esqueça que a distribuição dos dinheiros das apostas mútuas é mais justa para o desporto do que as da Santa Casa.

    Um abraço

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  2. Caro Fernando

    Não se esqueça que a distribuição dos dinheiros das apostas mútuas é mais justa para o desporto do que as da Santa Casa.

    Um abraço

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  3. Caro João
    Creio que a sua saudação seria Caro Bruno que é o autor de tão relevante poste.

    O Bruno tem para mim inteira razão porque o desporto espanhol tem um nível tecnológico tão elevado, considerando cultura, governance, ciência, técnica, 'aficion', 'ganas' etc que apesar da crise há-de marcar os resultados habituais em Londres.

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  4. Caro João

    Respondendo à sua questão não tenho os valores concretos mas é possível concluir pelo sucesso espanhol que a estrutura de financiamento espanhola será mais amiga e potenciadora do desporto do que aquilo que em Portugal se faz.

    Faltam-me elementos relacionados com os diferentes financiadores tanto públicos como privados e o comportamento dos produtores como os clubes e as federações.

    Isto para referir que a relação estabelecida será mais dinâmica, equitativa e com níveis de eficiência económica na aplicação dos recursos nacionais de maior nível.

    Um abraço

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