Junta-se o artigo de António Bagão Félix sobre Vanessa Fernandes, publicado na Bola de Fevereiro de 2011, na perspectiva de uma Ética que se quereria suprema quando trabalhamos com a juventude e das ameaças de um alto rendimento ilusório e predador aos mais precoces.
O artigo tem mais de um ano e a sua actualidade mantém-se ao celebrarmos os cem anos de Francisco Lázaro.
A
notícia surpreendente chegou-nos há dias. Vanessa Fernandes, a campeã de
triatlo, resolveu interromper a sua actividade desportiva. Pelo que li, tal
deve-se a circunstâncias pessoais, físicas e anímicas, absolutamente
respeitáveis.
Vanessa
sempre foi uma admirável atleta. Deu sempre um gostoso ar de menina
descontraída, às vezes até traquina, desfrutando o prazer do que fazia, bem
apoiada familiarmente até pelo exemplo do seu pai.
Mas
esta notícia fez-me voltar a reflectir sobre o mundo duro, predatório e
impiedoso com que os mais novos se defrontam no desporto e não só.
Hoje
vive-se com a obsessão fulminante do sucesso, da vitória, da fama, do dinheiro.
Quase sempre fugazes e ilusórios. Este falso cânone de felicidade contagiou
perigosamente o mundo infantil e juvenil. Suprimem-se ou atrofiam-se etapas
necessárias de crescimento físico, intelectual, emocional e psíquico por que
deve passar necessariamente uma criança ou jovem, o que, mais tarde, deixa as
suas marcas nocivas.
Vemos
isso estimulado pateticamente em concursos televisivos feitos à medida dessa
exploração de precoces talentos de meninos e meninas, sob a observação de pais
babados. Hipocritamente, nestes casos, a sociedade não censura o trabalho
infantil que bem condena em outras actividades laborais…
Todos
temos presente, ainda, a exploração ignóbil de ginastas e atletas do leste em
prol da propaganda de um regime, de tenistas mais tarde confrontados com a
solidão da derrota ou o desespero da desistência, e de indefesos jovens ícones
que não estão preparados para o esquecimento do dia seguinte e para os embates
do mundo.
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