quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

José Manuel Constantino dá hoje uma entrevista ao Record


Comparando as versões do jornal Record e do Facebook notam-se diferenças no que respeita a aspectos de política que são relevantes, razão para a publicação da entrevista na íntegra.


1 - Foi o último candidato a anunciar a intenção de se candidatar ao COP. Só entrou na corrida depois de ter sido empurrado ou de início não queria mesmo avançar?
Há muito tempo que pessoas ligadas ao desporto e às federações desportivas insistiam para que apresentasse uma candidatura á liderança do COP. Nos últimos meses esses apelos reforçaram-se. A todos respondi que se entendiam que podia ajudar à construção de uma solução para o COP estava disponível para conversar com as federações desportiva. Não obstante entendia que mais importante do que discutir a liderança seria discutira os objetivos , a estratégia e os critérios de constituição da equipa. A todos que me contactaram disso isto e incluo nestes todos um representante do grupo de federações agrupadas  na Grua ou G17.Como é publico um grupo de federações decidiu convidar todas as entidades que fazem parte do universo eleitoral do COP e a quem expus o que pensava da situação desportiva nacional e das prioridades que entendia para a ação do COP. Após essa reunião várias federações decidiram manifestar o respetivo apoio à minha candidatura. Avaliei com cada uma delas as soluções possíveis. Preenchidos os requisitos formais da candidatura anunciei a minha decisão não sem antes ter dado prévio conhecimento ao presidente do COP, Comandante Vicente Moura

2 - Acha que há espaço para 3 candidaturas?
Se não houvesse espaço não teriam sido anunciadas. Uma candidatura requer apresentação de um programa, de um equipa e ser subscrita por um determinado numero de federações desportivas de modalidades que constam do programa olímpico. Se anunciaram candidaturas é porque estão seguros de que reúnem as condições necessárias para o efeito.

3 - Se for eleito para suceder a Vicente Moura, considera que tem uma missão difícil?
Sim.

4 - Quais são as linhas programáticas mais fortes da sua candidatura?
O olimpismo e a ação de um comité olímpico nacional requerem um pensamento, uma doutrina e uma ação que ultrapassam em muito do domínio das questões desportivas em sentido estrito. Em breve irei apresentar o meu manifesto de candidatura onde exporei o entendimento sobre as questões que ma parecem essenciais quer à situação desportiva nacional, quer ao contexto desportivo internacional. Mais tarde será divulgado o Programa e o respetivo Plano de Ação.
O mote fundamental será o de ajudar a elevar o nível desportivo num contexto de afirmação desportiva País e no sentido de aumentar a sua competitividade externa e potenciar o trabalho das federações desportivas quer as que têm modalidades contantes do programa olímpico, quer as restantes.

5 - Considera que o facto de ter sido presidente do IDP lhe confere vantagem por conhecer a realidade das federações?
Antes de ser Presidente do IDP fui Presidente da Confederação do Desporto de Portugal e já tinha trabalhado alguns anos numa federação desportiva. Se a minha passagem pelo IDP algum conhecimento me acrescentou foi do lado da administração pública, desportiva e não só, e dos valores e modos de relacionamento que cultiva com as federações desportivas

6 - Como vai ser o relacionamento com as federações?
Normal. A base de sustentação do COP são as federações desportivas. Em certa medida é nelas que reside a soberania da sua missão e ação. O COP é um sintetizador das suas vontades, expectativas e necessidades e não uma entidade que sobreponha a sua vontade aqueles que representa.

7 - Como acha que é possível potenciar as capacidades das federações quando elas vão receber menos dinheiro?
Só há um modo. Contribuir para que agenda política de financiamento ao desporto seja modificada. Não faz muito sentido que em cada 100 euros que o Estado transfira para apoio ao desenvolvimento do Desporto quase 45% regressem ao Estado sob a forma de impostos diretos e indiretos resultantes da atividade das organizações desportivas. Mais preocupante é que em cada 100 euros de apoio o Estado gaste com a estrutura de suporte administrativo cerca de 60 euros. É incompreensível, a não ser à luz de um certo fundamentalismo fiscal que a elevação da taxa máxima do Iva no golfe, nos tarifários dos ginásios ou nos espetáculos desportivas se traduza não no aumento da receita fiscal do Estado, o que se compreenderia, mas na sua redução, na precarização do mercado de trabalho desse setores, com o aumento a jusante de prestações sociais, e na redução da competitividade desses setores.

8 - Acha que cada vez há uma maior intervenção do Estado na definição da política desportiva?
Uma política desportiva não é apenas uma política pública para o desporto. É mais do que isso. É uma política onde convirjam políticas públicas, é certo (de juventude, de educação, de cultura, de saúde, de ambiente, de turismo, de ordenamento do território), mas também politicas desportivas e associativas. A obsessão normativista que tem modelado o sistema desportivo nacional criou mecanismos de relacionamento entre o Estado e os entes privados e associativos que bloqueiam muita iniciativa. A cultura do Estado no modo como monitoriza os apoios que concede estrangula e complica. E a necessária sinergia entre o governo, o poder local e o movimento associativo no sentido de uma atuação estratégica e concertada em matéria de políticas de promoção e desenvolvimento desportivo está longe de ser devidamente aproveitada. A atuação sinérgica, ou melhor a sua ausência, é um dos males crónicos do sistema desportivo português. Com recursos escassos, os ganhos só podem vir do lado das poupanças. Limitando o que sendo oneroso não acrescenta valor. E maximizando as economias de escala que a colaboração sinérgica permite obter. O Estado através da administração pública centrada obsessivamente na legalidade dos procedimentos descura o essencial: saber qual é a produção de resultados desportivos e o grau de competitividade do financiamento que assegura. Foca-se no processo e ignora o produto.

9 - Acha que Vicente Moura disse a verdade quando afirmou que se está a navegar à vista ou, por outro lado, houve algum exagero nas suas palavras?
Disse a verdade é não foi a primeira vez que o disse.

10 - Os Jogos Olímpicos de Londres terminaram há 5 meses. Já se perdeu esse tempo na preparação para o Rio de Janeiro 2016?
Em bom rigor não existe uma preparação olímpica. Existe uma preparação para o alto rendimento de que os Jogos são um momento, de resto com uma desigual atenção das diferentes modalidades desportivas. Os atletas e os seus treinadores não deixaram de trabalhar. Mas é natural que num contexto de indefinição de regras e de procedimentos de apoio a segurança e a tranquilidade com que o fazem seja afetada por esse facto.

11 - Defende que seja o COP a coordenar a preparação olímpica ou que seja o IDPJ a assumir a gestão?
Obviamente. Quando em 2005 propus ao governo de então uma alteração do modelo de apoio é porque entendo o COP não deve ser apenas um entreposto financeiro entre o Estado e as federações na gestão do processo olímpico mas deve assumir a coordenação e supervisão, técnica e estratégica, de todo o projeto olímpico em estreita ligação com as federações. O Estado deve contratualizar os objetivos e monitorizar o modo como os apoios que concede são aplicados. Só isso.

12 - A existência da Confederação do Desporto tem estado envolvida nalguma polémica. É favorável à sua continuidade?
Fui Presidente da Confederação do Desporto e sempre me obriguei a um exercício de contenção pública quanto à avaliação do seu trabalho. Mantenho essa discrição. Penso no entanto que a existência de uma estrutura dual na representação desportiva federada deve merecer da parte das federações desportivas uma reavaliação no sentido de saber se solução atual deve ser mantida ou se é preferível um outo modelo de representação

13 - É tido como um grande amigo de Fernando Mota e no passado partilharam as mesmas ideias. Não estarão a pescar nas mesmas águas eleitorais?
O universo eleitoral é só um. Todos os candidatos pescam nas mesmas águas.

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