Comparando as versões do jornal Record e do Facebook notam-se diferenças no que respeita a aspectos de política que são relevantes, razão para a publicação da entrevista na íntegra.
1 - Foi o último
candidato a anunciar a intenção de se candidatar ao COP. Só entrou na corrida
depois de ter sido empurrado ou de início não queria mesmo avançar?
Há muito tempo que pessoas ligadas ao
desporto e às federações desportivas insistiam para que apresentasse uma
candidatura á liderança do COP. Nos últimos meses esses apelos reforçaram-se. A
todos respondi que se entendiam que podia ajudar à construção de uma solução
para o COP estava disponível para conversar com as federações desportiva. Não
obstante entendia que mais importante do que discutir a liderança seria discutira
os objetivos , a estratégia e os critérios de constituição da equipa. A todos que
me contactaram disso isto e incluo nestes todos um representante do grupo de
federações agrupadas na Grua ou G17.Como
é publico um grupo de federações decidiu convidar todas as entidades que fazem
parte do universo eleitoral do COP e a quem expus o que pensava da situação
desportiva nacional e das prioridades que entendia para a ação do COP. Após
essa reunião várias federações decidiram manifestar o respetivo apoio à minha
candidatura. Avaliei com cada uma delas as soluções possíveis. Preenchidos os
requisitos formais da candidatura anunciei a minha decisão não sem antes ter
dado prévio conhecimento ao presidente do COP, Comandante Vicente Moura
2 - Acha que há
espaço para 3 candidaturas?
Se não houvesse
espaço não teriam sido anunciadas. Uma candidatura requer apresentação de um
programa, de um equipa e ser subscrita por um determinado numero de federações
desportivas de modalidades que constam do programa olímpico. Se anunciaram
candidaturas é porque estão seguros de que reúnem as condições necessárias para
o efeito.
3 - Se for
eleito para suceder a Vicente Moura, considera que tem uma missão difícil?
Sim.
4 - Quais são as
linhas programáticas mais fortes da sua candidatura?
O olimpismo e a
ação de um comité olímpico nacional requerem um pensamento, uma doutrina e uma
ação que ultrapassam em muito do domínio das questões desportivas em sentido
estrito. Em breve irei apresentar o meu manifesto de candidatura onde exporei o
entendimento sobre as questões que ma parecem essenciais quer à situação
desportiva nacional, quer ao contexto desportivo internacional. Mais tarde será
divulgado o Programa e o respetivo Plano de Ação.
O mote
fundamental será o de ajudar a elevar o nível desportivo num contexto de
afirmação desportiva País e no sentido de aumentar a sua competitividade
externa e potenciar o trabalho das federações desportivas quer as que têm
modalidades contantes do programa olímpico, quer as restantes.
5 - Considera
que o facto de ter sido presidente do IDP lhe confere vantagem por conhecer a
realidade das federações?
Antes de ser
Presidente do IDP fui Presidente da Confederação do Desporto de Portugal e já
tinha trabalhado alguns anos numa federação desportiva. Se a minha passagem
pelo IDP algum conhecimento me acrescentou foi do lado da administração pública,
desportiva e não só, e dos valores e modos de relacionamento que cultiva com as
federações desportivas
6 - Como vai ser
o relacionamento com as federações?
Normal. A base
de sustentação do COP são as federações desportivas. Em certa medida é nelas
que reside a soberania da sua missão e ação. O COP é um sintetizador das suas
vontades, expectativas e necessidades e não uma entidade que sobreponha a sua vontade
aqueles que representa.
7 - Como acha
que é possível potenciar as capacidades das federações quando elas vão receber
menos dinheiro?
Só há um modo. Contribuir para que
agenda política de financiamento ao desporto seja modificada. Não faz muito
sentido que em cada 100 euros que o Estado transfira para apoio ao
desenvolvimento do Desporto quase 45% regressem ao Estado sob a forma de
impostos diretos e indiretos resultantes da atividade das organizações
desportivas. Mais preocupante é que em cada 100 euros de apoio o Estado gaste
com a estrutura de suporte administrativo cerca de 60 euros. É incompreensível,
a não ser à luz de um certo fundamentalismo fiscal que a elevação da taxa
máxima do Iva no golfe, nos tarifários dos ginásios ou nos espetáculos
desportivas se traduza não no aumento da receita fiscal do Estado, o que se
compreenderia, mas na sua redução, na precarização do mercado de trabalho desse
setores, com o aumento a jusante de prestações sociais, e na redução da
competitividade desses setores.
8 - Acha que
cada vez há uma maior intervenção do Estado na definição da política
desportiva?
Uma política desportiva não é apenas uma
política pública para o desporto. É mais do que isso. É uma política onde
convirjam políticas públicas, é certo (de juventude, de educação, de cultura,
de saúde, de ambiente, de turismo, de ordenamento do território), mas também
politicas desportivas e associativas. A obsessão normativista que tem modelado
o sistema desportivo nacional criou mecanismos de relacionamento entre o Estado
e os entes privados e associativos que bloqueiam muita iniciativa. A cultura do
Estado no modo como monitoriza os apoios que concede estrangula e complica. E a
necessária sinergia entre o governo, o poder local e o movimento associativo no
sentido de uma atuação estratégica e concertada em matéria de políticas de
promoção e desenvolvimento desportivo está longe de ser devidamente
aproveitada. A atuação sinérgica, ou melhor a sua ausência, é um dos males
crónicos do sistema desportivo português. Com recursos escassos, os ganhos só
podem vir do lado das poupanças. Limitando o que sendo oneroso não acrescenta
valor. E maximizando as economias de escala que a colaboração sinérgica permite
obter. O Estado através da administração pública centrada obsessivamente na
legalidade dos procedimentos descura o essencial: saber qual é a produção de
resultados desportivos e o grau de competitividade do financiamento que
assegura. Foca-se no processo e ignora o produto.
9 - Acha que
Vicente Moura disse a verdade quando afirmou que se está a navegar à vista ou,
por outro lado, houve algum exagero nas suas palavras?
Disse a verdade
é não foi a primeira vez que o disse.
10 - Os Jogos
Olímpicos de Londres terminaram há 5 meses. Já se perdeu esse tempo na
preparação para o Rio de Janeiro 2016?
Em bom rigor não existe uma preparação
olímpica. Existe uma preparação para o alto rendimento de que os Jogos são um
momento, de resto com uma desigual atenção das diferentes modalidades
desportivas. Os atletas e os seus treinadores não deixaram de trabalhar. Mas é
natural que num contexto de indefinição de regras e de procedimentos de apoio a
segurança e a tranquilidade com que o fazem seja afetada por esse facto.
11 - Defende que
seja o COP a coordenar a preparação olímpica ou que seja o IDPJ a assumir a
gestão?
Obviamente. Quando em 2005 propus ao
governo de então uma alteração do modelo de apoio é porque entendo o COP não
deve ser apenas um entreposto financeiro entre o Estado e as federações na
gestão do processo olímpico mas deve assumir a coordenação e supervisão,
técnica e estratégica, de todo o projeto olímpico em estreita ligação com as
federações. O Estado deve contratualizar os objetivos e monitorizar o modo como
os apoios que concede são aplicados. Só isso.
12 - A
existência da Confederação do Desporto tem estado envolvida nalguma polémica. É
favorável à sua continuidade?
Fui Presidente da Confederação do
Desporto e sempre me obriguei a um exercício de contenção pública quanto à avaliação
do seu trabalho. Mantenho essa discrição. Penso no entanto que a existência de
uma estrutura dual na representação desportiva federada deve merecer da parte
das federações desportivas uma reavaliação no sentido de saber se solução atual
deve ser mantida ou se é preferível um outo modelo de representação
13 - É tido como
um grande amigo de Fernando Mota e no passado partilharam as mesmas ideias. Não
estarão a pescar nas mesmas águas eleitorais?
O universo eleitoral é só um. Todos os
candidatos pescam nas mesmas águas.
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