terça-feira, 29 de novembro de 2011

5. Análise crítica e semântica do Decreto-Lei n.º 98/2011, de 21 de Setembro


Quando Malheiro Dias foi convidado pelo Director da Faculdade de Letras de Coimbra, Eugénio de Castro, a pronunciar uma ”Exortação à Mocidade”, um artigo publicado pelos académicos republicanos considerando o autor um reaccionário, um sebastianista, a conferência ficou sem efeito, resultando daqui aparecer no frontispício da sua exortação publicada a seguir, pela Litografia do Porto, em 1924, este aviso: “Texto integral da alocução que deveria ter sido proferida na sala dos Capelos da Universidade de Coimbra, no dia 11 de Maio de 1924, e que nesse mesmo dia o autor leu aos pássaros e às árvores, da varanda de Pilatos, no ermo do Bussaco.“

O Secretário de Estado do Desporto e Juventude, na mensagem aos jovens no Portal da Juventude também fala na cultura do Sebastianismo, na versão nacionalista e patriótica.

Não seria estultice imaginar que o LBJ deveria levar o mesmo destino, isto é, em vez de ser entregue na Assembleia da República, ser lido na varanda de Pilatos, não na sua totalidade, mas em síntese, nos mesmos termos com que Malheiro Dias redigiu o texto de abertura da Exortação, que define todo o panorama que aguarda a juventude, e constituiria o mais breve Livro Branco da Juventude:

 “O legado que recebeis de nós contém mais sacrifícios que benefícios… Todos os que vos precedemos na vida comparecemos diante de vós como factores e cúmplices, activos ou passivos, de um erro funesto.”

Porém, além das razões justificativas apresentadas no texto anterior sobre o desnecessário projecto, onde figuram desenvolvidamente todos os partícipes na elaboração do tecido branco, acresce esta floração, com trabalho calendarizado, como nova e justificativa razão da inutilidade do projecto:

A – OUTONO

1.º grupo

Outubro 2011 - Identificação de intervenientes das políticas de Juventude: 
  • Associações Juvenis de âmbito local, regional e nacional; 
  • Conselho Nacional da Juventude (CNJ); 
  • Federação Nacional de Associações Juvenis (FNAJ);
  • Instituto Português da Juventude (IPJ, I.P.);
  • Juventudes Partidárias, dos partidos políticos com assento na Assembleia da República;
  • Associações de Estudantes do Ensino Secundário e Superior;
  • Associação Nacional de Municípios Portugueses;
  • Comissão Interministerial de Juventude com todos os sectores políticos de áreas transversais à Juventude: Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT), Ministério da Educação e Ciência (MEC), Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), Turismo de Portugal.»
Com o que se demonstra que já existem associações, conselhos, federações, institutos, juventudes partidárias, comissões com áreas transversais, não de recente criação, a trabalharem organizadas, com as funcionalidades definidas pelos respectivos estatutos ou normativos jurídicos, legalizando-os e legitimando-os. E onde se consagram 5 transversais, já instituídas e a operar dentro dos seus âmbitos, a desaguar na Comissão Interministerial de Juventude.

O que pode um LBJ acrescentar de novo ao que cada organismo desenvolve? Fazer a síntese do grupo ? Conhecer a actuação desenvolvida por cada transversal em prol da juventude ?  Ou, como pressupõem os §§ 5.º a 9.º do preâmbulo do Decreto-lein.º 98/2011, de 21 de Setembro, refundir todos eles, segundo novos parâmetros ?

Que diz o parágrafo 5.º ? Que há necessidade de “uma estratégia pluridimensional baseada na articulação da abordagem das várias políticas sectoriais” para assegurar a “articulação e a participação de todos… exigindo-se a co-responsabilização das diferentes políticas públicas”. Qual o significado deste teor ? Transmitir a ideia de que neste âmbito nada se fez, e que o novo Governo, por este meio também não vai conseguir, porque a tarefa é ciclópica, perante os donos de cada ilha,

Que observa o § 6.º ?   Que há muitos e diversos organismos públicos dedicados à juventude, “com sobreposição de atribuições e competências” donde resulta  uma deficiente articulação e coordenação das políticas públicas emanadas das tutelas do desporto e da juventude”. Qual o significado deste parágrafo ? Que o Governo gosta da Juventude, mas esta não precisa de tantas atenções de tanta gente. Que possivelmente cada um daqueles organismos perguntará a mesma coisa aos jovens – nome, idade, habilitações, morada… - donde a sobreposição de atribuições, além de dificultar a obediência às “políticas públicas das tutelas do desporto e da juventude”, isto é, Instituto Português do Desporto e Instituto Português da Juventude (IPJ), dos quais irradiará as doutrinas, embora se não entenda como, porque, relativamente à Juventude, além dos objectivos perseguidos pelos múltiplos organismos para a servirem, ao IPJ caberá certamente alcançar outros, os não contemplado por todos os outros.

O que se lê no § 7.º ? Que o quadro pintado no § 6.º é por culpa do Programa do XIX Governo Constitucional que vai obrigar a modernizar a administração, mesmo que fique na mesma, ou piore, e a melhorar os serviços públicos, na esperança de “ganhos de eficiência”. Que ideia se extrai deste § ? A mesma que já se tiraram da Constituição – um amontoado de boas intenções. Herança desde a 1.ª Constituição Monárquica.

Qual a ponderação do parágrafo 8.º ?  Que há “acentuadas restrições orçamentais” que vão exigir “a reestruturação e redução das estruturas da Administração Pública”, para pôr “cobro ao desperdício de recursos públicos significativos, humanos, materiais e financeiros”, com a agravante de haver “organismos com desideratos comuns ou interceptantes”. Qual o significado deste parágrafo ? O de que todos os organismos do Governo perfilham esta teoria que deve ser invocada persistentemente, mesmo que a sociedade civil pense que “bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz mas não faças o que ele faz”.

Finalmente, qual a expansão do 9.º parágrafo ?  A de que o país, ao estar como está, tem de terminar com a perpetuação de instituições – Fundação para a Divulgação de Tecnologias de Informação, e a MOVIJOVEM – pelos resultados negativos acumulados. O que se infere ? Independentemente dos “resultados líquidos negativos acumulados”, que constitui prática corrente de todos os Governos, de todos os tempos, a subjectividade focaliza que o actual Governo está imune a gastos perdulários… e muito menos para a Juventude.

2.º grupo

Outubro 2011 - Comissão com elementos representativos dos actores identificados, que estabelecerá operacionalização prática – Coordenação: 
  • Secretaria de Estado do Desporto e Juventude
  • Instituto Português da Juventude, I.P.
  • 1 Representante do CNJ;
  • 1 Representante da FNAJ;
  • 1 Representante das Associações de Estudantes do Superior; 
  • 1 Representante das Associações de Estudantes do Secundário.
 Estancou-se aqui a complexidade durante o exaustivo mês de Outubro – muito atribulado terá sido -, e cujo andamento se desconhece, tão pródigos e costumeiros são os Governos em dar conta dos seus trabalhos.

Bem se entende que não acabaram aqui os trabalhos de Hércules, porque de mais tempo alargado dispôs o Governo, para se debruçar sobre tarefa tão árdua, como a de dar à luz a LBJ, depois dos mil e um cortes e eliminação de transversalidades sobrepostas, e cujos custos astronómicos, para o exaurido tesouro do Estado, impõem  estas tarefas, com um percurso ainda difícil a vencer até Junho de 2012.

OUTONO E INVERNO

   - Novembro 2011 a Fevereiro 2012 - Recolha de Contributos através desta plataforma online   

PRIMAVERA

- Março e Abril 2012 - Organização de 5 Seminários/workshops Regionais, deslocados geograficamente pelo país – em cada uma das 5 regiões-plano (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve)  

- Maio 2012 - Evento Nacional de Apresentação das Conclusões dos Seminários Regionais  

- Junho 2012 – Entrega de Relatório Final à Assembleia da República e ao Senhor Presidente da República, contendo as principais propostas, aberto a um processo de consulta sobretudo aos Jovens, motivando o debate e obtendo o maior número possível de informação, a apresenta.

Depois, em 21 de Junho, como Livro Branco da Juventude habemus, começa o Verão, e, como versejou Sophia de Mello Breyner:

O tempo é de repouso e festa.

Não devia ser. A Juventude não merece esta perda de tempo. Ter-se-á redigido o Livro Branco do Tempo Perdido.


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