sábado, 19 de novembro de 2011

Agora estamos no Outono e sabemos que vamos entrar no Inverno

"E foi o Desporto, com o seu trabalho voluntário, gratuito e apaixonado, e com as suas gentes, dirigentes, atletas, e ainda com o apoio extraordinário da imprensa, que pressionaram Salazar a ir ao Terreiro do Paço, no dia 3 de Dezembro de 1933, declarar a toda a massa crítica do desporto que iria atender a todas as necessidades expostas no 1.º Congresso dos Clubes Desportivos, publicadas em "Os Sports", em 15.12.1933.

Como foi a mesma massa crítica do Desporto que obrigou o Estado a criar, passados 10 anos, mais precisamente, em 05.09.1942, a Direcção-Geral da Educação Física, Desportos e Saúde Escolar, e um ano depois, em 03.08.1943, a regulamentá-la."

I
Esta frase de João Boaventura num comentário no Colectividade Desportiva lança inúmeras hipóteses sobre a diferença do associativismo na Europa e em Portugal.

Enquanto em Portugal o regime andava a contragosto e divorciado do desporto e da população, na Europa o movimento associativo é reconhecido social e culturalmente e quando o Estado decide apoiar financeiramente o associativismo, este nega o apoio e exige a manutenção da independência, apesar de compreenderem que o que o Estado quereria era incrementar a prática de desporto. Isto acontecia ainda na década de oitenta como contava e escrevia o sociólogo dinamarquês Soren Riiskjaer em reuniões do Conselho da Europa.

Nestas reuniões quando os economistas falavam na possibilidade de a prazo surgirem em maior número organizações com finalidade lucrativa os sociólogos viam essa hipótese mais distante e incompreensível.

Na teoria económica hoje é cientificamente indiscutível que o associativismo desportivo está na base do sucesso desportivo europeu e da acumulação exemplar de massa crítica desportiva, social e cultural que levou à explosão na Europa dos consumidores de desporto dos anos noventa e início de dois mil. Hoje há autores como o britânico Stefan Szymanski que advogam o assumir do modelo americano na Europa como consequência lógica de um desenvolvimento consequente do mercado do desporto.

II
É possível avançar mais algumas ideias sobre a situação desportiva portuguesa:
  • o IDP foi à falência e por isso o PSD e o CDS decidiram o seu desaparecimento.
  • a falência do IDP está no seu processo de trabalho que leva à produção de medidas de política que são a causa da difícil situação em que se encontram muitas federações, ligas e clubes e outras organizações como o COP, a CDP e organizações profissionais como as mulheres, os professores, os gestores, entre outras.
Mais importante do que demonstrar os erros do passado é a demonstração de uma real capacidade de liderar o futuro.

A máquina nova será vazia de sentido se tiver os mesmos oficiais do passado e novos que percebem de desporto o que as palavras, as entrevistas e as imagens poderão demonstrar.

A criação do novo desporto e cultura para o bem-estar dos portugueses é uma exteriorização de empenhamento e querer direccionado para um tecido cultural, associativo e económico muito mais rico e contraditório do que o liderado pelo PS de Laurentino Dias.

O trabalho do PS na área do desporto respondeu eventualmente às necessidades da sua afirmação legislativa e nisso Laurentino Dias teve sucesso pleno porque liderou com firmeza durante todo o período.

Demonstrar que houve sucesso na destruição do IDP é criar a alternativa sob pena de repetir outras mortes do passado da agência técnica do desporto que não trouxeram sustentabilidade do desenvolvimento de longo prazo.

A crise nacional não pode ser desculpa para a ausência de desporto como fez o PS no Congresso exteriorizando uma mão-cheia de fragilidades que entreteve e paralizou o desporto para a legislatura.

Recorde-se que foi com a ascensão do PS que foram calados e despedidos um conjunto de elementos na comunicação social e no associativismo que eram incómodos.

Isto pode estar em vias de acontecer com as exigências da Troika em diminuir os quadros da administração pública.

Para manter um modelo equivalente ao do PS é necessário que os elementos que demonstraram capacidade crítica sejam afastados.

III
Este périplo pretende mostrar que a construção da democracia desportiva passa pelo conhecimento, pela cultura da população e que os instrumentos do poder são fortes e são eles que decidem o que destruir e construir quando em todos os tempos se ligam a atletas de excepção que o acaso da sorte fez crescerem em Portugal.

De política e de desporto agora estamos no Outono e sabemos que vamos entrar no Inverno.

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