domingo, 4 de dezembro de 2011

O tempo escasseia para o desporto

I
O tempo escasseia principalmente quando as ideias mobilizadoras são silenciadas pelas condições de ineficiência do debate da política desportiva.

Há estruturas esvaziadas de substância política desportiva que se deram conta estar sentadas na tão almejada cadeira do poder e não sabem o que fazer com ele porque estão a fazer o seu melhor e este falha. Sabem que estão a falhar e sabem que os outros quando lhes dizem que as coisas estão mal, eles sabem do que falam, e a cadeira treme.

Sentem o chão a fugir-lhes dos pés, ameaçam, mandam isolar aqueles que dizem o que está mal e pressentem que a solução não está exclusivamente nas valências dos novos dançarinos. Aquilo que sabem fazer melhor é uma parte do problema e existem outros instrumentos em que são manifestamente canhestros ou outros praticaram mais e são esses outros que sabem melhor o que fazer, quando fazer e que dose de cada condimento integrar.

Nomearam para as lideranças currículos contestáveis e maus currículos também. Faltando-lhes arte mais difícil ainda é contestar a contestação com argumentos sólidos.

II
Quando na oposição serviram de testa de ferro a projectos manifestamente impossíveis para Portugal e desejados por agentes privados que se namoravam mutuamente. Quem disse que eram asneiras tremendas contra o desporto português foram ostracizados.

Agora, quem privadamente apoiou e contribuiu para a eleição deste poder demonstra a vacuidade das ideias, princípios e propósitos e a barca balança fortemente. A tempestade perfeita começa na Primavera e só se vêem as folhas amarelas e castanhas do Outono.

Andar à pesca de uma ideia forte em discursos, entrevistas e artigos é uma perda de tempo porque apenas existe areia no deserto.

III
Trabalhar em conjunto, respeitar as valências, valorizar o espírito inteiro do outro sem o matar e sem o ofender para projectar o todo comum, fazer conferências históricas na perspectiva do desenvolvimento do bom desporto nacional é coisa que feneceu há tantos anos.

E contudo o tempo vai fiando e o tempo que é a matéria-prima das boas ideias e da acumulação de capital, este passar de tempo que se perde pela incompetência das lideranças e das complexidades da governance moderna que não se conseguem alcançar, este tempo vai faltar para criar um desporto novo e bom.

IV
Houve mudança eleitoral porque os anteriores líderes fizeram o seu melhor e mesmo assim decidiu-se que era melhor mudar.

Este mudar não é um acto divino e para sempre, este dar o poder é para a demonstração da capacidade que outrem demonstrou não conseguir lá chegar.

O que está em causa é a capacidade de fazer melhor o bem que o desporto merece.

O que está em causa é, sem rancor e com frontalidade, trabalhar com os melhores do desporto para alcançar níveis cada vez mais elevados de produto desportivo nacional.

V
Aos problemas da liderança do desporto juntam há vários anos as limitações de um modelo de liderança desportiva que dura há décadas.

Obviamente foi bom ter acabado com o IDP mas isso é o óbvio.

O que se exige é a criação de uma nova instituição moderna e para isso é necessário trabalhar com toda a economia e toda a sociedade de que o desporto moderno é feito.

VI
O tempo e os factos vão demonstrar que o tempo que está a passar é vital e que não há unhas para este fado.

Tal como no privado agora no público pode perguntar-se: afinal a quem interessa esta sucessão de silêncios clamorosos, de mal entendidos e de incapacidades?

Facto sobre facto os problemas não são de hoje.

Nenhum problema é de hoje. Nenhum.

Ter duas ou três medalhas em Londres é a salvação de uma legislatura política, e não será a do desporto porque as soluções estão todas por ver como outros fizeram bem feito, escrever assertivamente, conversar com frontalidade, discutir profundamente, decidir bem e fazer com eficácia e eficiência.

A falta de tempo vai bater à porta.


Conclusão
Há duas incapacidades: de, por um lado, romper com a essência dos erros do passado e, por outro, de dar as mãos aos elementos com futuro do desporto português.

Ambas serão demonstradas pelo tempo.

Estas incapacidades, face ao escoar dos recursos vitais entretanto realizados, mais esforços exigirão no futuro para alcançar qualquer média europeia.

Estas são as consequências de política do que actualmente se faz.

Trabalhar sem rancor, com democracia e transparência mobilizando todo o desporto e assumindo debates frontais em profundidade é um imperativo ético que não está à mão de qualquer um independentemente da cadeira em que se senta.

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