I
O Benfica, o Sporting e o Porto estão desde há décadas contra todos e contra o mundo o que lhes permitiu alcançar aquilo que são.
II
A nossa história das políticas do desporto profissional demonstra a sua inconsequência. Sem políticas públicas continuadas e estruturalmente consistentes nada de melhor há que esperar. Como um filme aqui ficam algumas cenas:
- Os clubes decidiram em 2006 diminuir o número de clubes do campeonato a fim de assegurarem a rentabilidade do mesmo. A Deloitte fez o primeiro estudo a suportar a opção. As medidas de política dos Governos respeitaram os desejos dos grandes clubes e nada fizeram e a Liga descansou.
- A Deloitte faz um segundo estudo que demonstra vários problemas no desporto profissional.
- Em 2008 o COP tem o desastre dos Jogos Olímpicos de Pequim.
- A Liga faz uma conferência onde são apresentados os resultados do segundo estudo da Deloitte e surgem oradores internacionais a realçar o agravamento e o erro da fractura existente entre os três grandes clubes e os restantes.
- Nos últimos anos os principais clubes portugueses conseguem níveis de competitividade crescentes e únicos na Taça Europa e na Liga dos Campeões.
- O governo em funções em 2011 ao fim de muitos anos de inactividade por parte de outros governos por sugestão da Liga faz três estudos sobre as SAD's, os talentos e a arbitragem do futebol profissional.
- Surge em Dezembro de 2011 um Plano Integrado de Desenvolvimento Desportivo por parte do COP.
- Gilberto Madail despede-se da FPF dando lugar a Fernando Gomes deixando o futebol português nos melhores rankings de sempre na UEFA e na FIFA no respeitante ao desporto profissional e às selecções, o que a comunicação social celebra como um feito extraordinário.
- Pinto da Costa é homenageado mundialmente pelo seu historial único de líder de clube de futebol.
- Depois dos jogadores agora são os treinadores portugueses que se destacam em todo o mundo.
- Ronaldo mantém-se como 'prima dona' mundial, Nani solidifica a sua prestação no melhor clube do mundo e o resto torna-se paisagem.
- A Liga portuguesa é daquelas com menor número de nacionais.
- As falências dos clubes amadores e semi-profissionais de futebol é uma realidade.
- Tribunal decide que a actividade da Betwin em Portugal é ilegal.
- Em 2012 o Benfica declara que as relações que tinha iniciado com Pais do Amaral estavam a soçobrar e que nunca tinha deixado de trabalhar com a Olivedesportos.
- António Oliveira afiança que o futebol português é dominado por uma única empresas.
- Em 2012 os pequenos clubes da Liga decidem eleger um candidato Mário Figueiredo que lhes promete aumentar o número de clubes de 16 para 18, contra o candidato António Laranjo apoiado pelo Benfica, Sporting e Porto.
- ...
III
A sugestão que deixo é que há um fio condutor contraditório e une todo o historial do futebol português.
A sugestão que deixo é que era possível limar algumas arestas e fazer aquilo que espanhóis, franceses, ingleses, alemães, italianos, holandeses fazem bem feito, dentro de quatro linhas políticas e que isso traria benefícios para todos os parceiros do futebol e o desporto português.
IV
Compreende-se que para algumas pessoas dizer e querer fazer diferente é ter a perna curta, mas o tempo passa e demonstra como afinal esse seu convencimento é tão grande quanto as palavras que dizem são desmentidas pela realidade dos factos justificando-se 'dizer e querer fazer diferente'.
A comunicação social costuma prestar atenção às palavras politicamente certas e menos atenção presta à crítica. As palavras dos políticos podem ser atestadas a par dos fracassos como as dificuldades em que o Benfica está há anos enrodilhado na sua via estreita para um monopólio televisivo que é errado e nenhum grande clube de país rico tem.
Mas nenhum governo português teve a estatura para resolver o problema do audiovisual do futebol profissional como fazem os países com os melhores campeonatos e selecções do mundo.
A Espanha é a realidade que tem condicionado Portugal mas a Espanha como se demonstra nas selecções, na organização de mega-eventos, nos jogadores e treinadores, quando Portugal faz e tem bom a Espanha vem buscar e copia melhor.
À metáfora das 'pernas curtas e longas' talvez se sugira outra capacidade com vantagem: a dos governos competentes desportivamente e com a coragem para fazerem aquilo que o país e a população portuguesa espera que eles façam em prol do seu desporto e do seu bem-estar.
Certo desconhecimento desportivo e as palavras tonitruantes politicamente serão dos factos que mais prejudicam o Benfica, o Sporting e o Porto.
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