domingo, 12 de fevereiro de 2012

A procura da materialidade do desporto português

I
É pouco, 'não dará para o tabaco', aquilo que as multinacionais de auditoria financeira e empresarial ganham com o desporto. Estas empresas com a realização de auditorias a projectos, empresas e sectores da actividade económica nacional ganham muitos milhões de euros o que é distinto das dezenas de milhares que ganharão com o desporto.

As grandes empresas quando chegam trazem o modelo que venderam ao responsável político e pedem elementos de conhecimento desportivo e ganham sem investimento essas valias para outros voos. As universidades sabem que estes contratos que os políticos do desporto facultam têm duas consequências:
  1. apropriam-se da informação específica do sector através do trabalho dos especialistas da administração pública e dos trabalhos escolares.
  2. passam a vender como detentores de conhecimento e investigação própria, o que não é verdade.
É significativo o mal que fazem ao desporto.


II
Uma das soluções dos governos no desporto foi colocarem representantes destas empresas no CND e contratarem mais.

Com este comportamento os políticos do desporto secam a possibilidade de investigação ligada ao processo de política desportiva e canaliza para fora do desporto recursos que deveriam ser investidos nas faculdades e escolas de desporto e para investigadores de reconhecido mérito em Portugal e no estrangeiro.

Mas os políticos do desporto em Portugal fazem mais: tornam proscritas áreas do conhecimento desportivo como as ciências sociais usando apenas a ciência do direito e a ciência da política para a feitura das medidas de política desportiva.

Outras características negativas poderiam ser indicadas.

Este comportamento tem um impacto negativo crescente como se observa com a falência de inúmeras organizações desportivas, a  destruição do capital desportivo acumulado ao longo das décadas e a divergência do desporto português da média europeia.

No estrangeiro a situação é competitiva por parte das universidades e destas empresas e a posição dos políticos acaba por permitir melhores resultados para o desporto.


III
O artigo do jornal i sobre 'Financiamento estrangeiro. Quanto vale um cientista que vale milhões?' sugere como a situação da ciência em Portugal se está a alterar rapidamente para melhor enquanto no desporto se actua ao longo das décadas sempre da mesma forma sem nada aprender e sem nada beneficiar o desporto e os seus parceiros privados.

A Ciência mostra ao desporto como formar campeões coisa que o desporto soçobrou em inúmeras dimensões.

A diferença entre o mercado da ciência e o mercado do desporto é que o primeiro, muito graças ao trabalho de Mariano Gago, se transformou num mercado competitivo e estimulante, enquanto o segundo se transforma para pior num mercado ineficiente e fracassado onde os problemas vão surgindo e acumulando diariamente na ausência de informação, ciência e investigação nova.


IV
Há mais do que um agente a actuar com irracionalidade o que contribui para a falência actual do desporto.

Mirandela da Costa depois da primeira lei de bases e do PROIDD deixou um conjunto grande de contributos de política desportiva e igualmente problemas não resolvidos.

O PROIDD não avançou e a lei de bases foi feita mais duas vezes e agora está a ser refeita às partes que se relacionam com a parte que melhor eco possui.

Em 1997 começa a corrida para o Euro2004 e em 2006 assiste-se aos primeiros sinais de abrandamento do produto desportivo.

Hoje a crise da produção desportiva nacional é evidente e só se vêem projectos parcelares, foi dito que o todo não seria analisado e algumas partes só nos finais de 2012 com a nova direcção do COP (estarei a dizer bem?).

Não há razão para actuar desta forma se se tiver um modelo assente em princípios fortes integradores do todo e potenciador do desporto nacional.


V
A investigação científica é mais necessária do que nunca e trabalhar apenas com empresas com capacidade tremenda de lobing é cómodo e pode ser mortal como demonstra a crise financeira de há alguns anos a esta parte.

É interessante ver o desporto português a procurar a resposta nos lobies financeiros quando a ciência e a cultura nacionais dão cartas com outra forma de actuação centrada nos seus princípios e na determinação dos seus agentes.

O erro pré e pós-Euro2004 foi tratar do evento e não do desporto.

Esse erro esteve nos estudos feitos que olharam para a actuação do Estado tendo com preocupação salvar-lhe a face perante o megaevento que tinha sido assumido.


Conclusão
Sufocar a investigação desportiva quer através da captura pelo direito da política desportiva, quer pela aceitação da captura da investigação desportiva pelas empresas sem capital de conhecimento específico é um erro que prejudica o desporto e todos os que nele trabalham.

Se de facto este modelo funcionasse então o produto desportivo nacional seria o dobro daquele que é hoje desportiva, económica e socialmente.

Com um produto duplicado também os estudos, as auditorias e todos os serviços teriam o dobro da dimensão actual.

Há portanto que actuar sobre os procedimentos de política desportiva do passado que se mantêm e que são causas e não consequências sobre os quais urge actuar para que todos beneficiem e inclusive as empresas, políticos e pessoas do direito deixando outras áreas darem o seu melhor como acontece na ciência.

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