por Lusa, publicado por Graciosa Silva
De início, os trabalhadores que separam o lixo em Leiria estranharam a novidade, mas os músculos, os tendões, os joelhos, a coluna, os ombros e sobretudo o pescoço rapidamente se renderam à ginástica laboral introduzida pela empresa.
"A motivação das pessoas mudou muito. De manhã começam o trabalho mais bem-dispostas e depois, no final, há uma descontração psicológica. Os problemas que trazem de casa ficam nesta roda", explica Filipe Nazário, supervisor da triagem da Valorlis, olhando para os funcionários que realizam os exercícios, 'desenhando' um círculo à frente do pavilhão.
Na Valorlis, empresa de Leiria que gere o tratamento de resíduos sólidos urbanos de seis municípios e que recebe em média 100 mil toneladas anuais, o aquecimento e o relaxamento são realizados, respetivamente, ao princípio e ao fim de cada turno, dentro do horário de trabalho.
"Deixou-se de ouvir falar em torcicolos e em termos produtivos nota-se que a primeira hora de trabalho, que já era boa, é de longe a mais eficaz", enfatiza o supervisor.
Quando a ginástica laboral deu os primeiros 'passos' entre os funcionários da triagem, muitos franziram a sobrancelha.
Hoje, muitos dos 21 trabalhadores que participam no projeto e que todos os dias separam embalagens - e repetem até à exaustão os mesmos movimentos - já 'exportaram' os exercícios para a privacidade das suas casas.
"Ao princípio achámos que era uma brincadeira, mas agora levamos isto mais a sério. De manhã dá para aquecer os músculos e no final do dia ficamos mais relaxados", reforça uma das trabalhadoras, Irene Saraiva, de 54 anos.
Por vezes, ao fim de semana, faz questão de repetir os exercícios, "não vá o diabo tecê-las" nas tarefas caseiras e provocar-lhe mais dores "no ombro esquerdo, à noite, e no joelho direito, que nunca mais foi o mesmo desde uma queda em 2008".
O alívio nas dores, fruto do cansaço que 'mora' nas pernas após várias horas na mesma posição, é a "mais-valia" que destaca outra das funcionárias, Vânia Costa, de 25 anos.
" 'roda' destes 'ginastas' em fim de turno, junta-se o representante dos trabalhadores na área de higiene e segurança, que opera diariamente uma empilhadora e procura dar algum sossego aos músculos lombares, ele que já foi alvo de uma operação à coluna.
"Toda a gente beneficiou da ginástica em termos de saúde e veio juntar mais o pessoal, criar outra dinâmica", conclui Nuno Macedo.
A ideia é "fornecer a cada pessoa a responsabilização da saúde no seu posto de trabalho, mas também adequar os exercícios às características individuais que causam patologias específicas", justifica a fisioterapeuta responsável pelo projeto.
Maria do Céu frisa que as tendinites, as bursites e as algias da coluna vertebral são algumas das patologias observadas neste tipo de trabalho, que podem ser ainda potenciadas por choques térmicos.
Alguns dos problemas são minorados pelo investimento da empresa em equipar o local com piso antifadiga e cabines climatizadas, ilustra a técnica de higiene e segurança no trabalho Sofia Quina.
"A ginástica laboral insere-se no esforço que temos tido para melhorar as condições de trabalho e os índices de motivação", destaca o administrador-delegado da Valorlis, Miguel Aranda,
O responsável acrescenta ainda que, "devido aos horários e à impossibilidade de constituírem grupos que assegurem a dinâmica dos exercícios, não tem sido possível alargar a ginástica laboral para outras secções".
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