Nas
últimas 3 décadas do século XIX, começam a surgir frequentes movimentações
desportivas, especialmente o atletismo, com competições locais e campeonatos a organizarem-se
por todo o lado. Esta difusão que Pierre de Coubertin observa e anota nas
deslocações que faz a Inglaterra e à América, a pedido e a expensas do governo
francês, também interessado na projecção da França como impulsionadora da renovação
dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, são fortes motivações que inculcam nele a
ideia de que a implantação dos Jogos Olímpicos é uma subjectivação alicerçada pelo
apoio do Governo e até pelas diversas entidades particulares e oficiais
estrangeiras com as quais contactou pessoalmente, e lhe transmitiram a
convicção de que a concretização do sonho era uma realidade a apagar aos poucos
o que de início pareceria uma utopia.
Estes
viagens e contactos frequentes contam, além do suporte económico do Estado, com
a fortuna pessoal de Coubertin, herdeiro de uma cadeia de hotéis em França, que
esbanjará para a realização de todo o trabalho de organização e realização do
olimpismo, desde a criação do Comité Internacional Olímpico até à organização
dos Jogos Olímpicos quadrienais, que o arrastou até à pobreza.
Nos seus
contactos com as instâncias universitárias inglesas, apostadas na divulgação
das práticas desportivas, é de considerar que Coubertin teria conhecimento dos
arremedos de tentativas de organização de jogos olímpicos, nas ilhas
britânicas, que se tornam notadas apenas pela magia da palavra “olímpics”. No
início dos anos 1800, excepcionalmente, os escoceses também foram influenciados pela
difusão das actividades desportivas e criaram os “Highland Games”, omitindo o
“olimpics” que considerarão termo britânico, e como manifestação de
indepenedentismo da coroa inglesa contra a qual sempre lutaram, substituindo-o
por “Highland”. Estes Jogos escoceses fizeram uma demonstração na Feira
Internacional de Paris, em 1900, onde se realizaram os apagados II Jogos
Olímpicos, e consta que Coubertin terá assistido à mesma, composta de provas de
força (lançamentos do peso e do martelo) , velocidade, e saltos em comprimento,
e terá provavelmente pensado que,
paralelamente, às actividades desportivas dos Jogos, os organizadores da Feira
as terão aproveitado como espectáculos circenses.
Coubertin
não deixou nenhum registo ou notação sobre a participação destas actividades
dos “Highland Games” juntamente com os II Jogos Olímpicos, parecendo tomar
parte destes, porque a organização foi totalmente apagada pelo domínio da Feira
Internacional de Paris, nada interessada no relevo pretendido pelo Comité
Internacional Olímpico. Constituiu uma experiência tão amarga que Coubertin
teve de aceitar que os Jogos acabaram por serem designados de Concurso
Internacional de Exercícios Físicos e de Desportos, e verá o exemplo repetido nos III Jogos Olímpicos,
em 1904, incluídos na “Exposição Internacional de Saint Louis”, embora os Jogos
estivessem marcados para Chicago, mas o Presidente Roosevelt insistiu junto do
CIO para serem incluídos na Exposição, e Coubertin, bem a contra gosto, teve de
anuir, mas recusou comparecer à abertura da Olimpíada, porque ficaria
totalmente fora dos parâmetros do CIO..
Daqui terá certamente concluído
Coubertin que os II e III Jogos Olímpicos, porque diluídos, um na Feira e outro
na Exposição, nunca foram organizados pelo CIO, nem pelas cidades
organizadoras, mas os estádios, as piscinas e as pistas artificiais
desportivas, estavam limitadas às que a natureza fornecia: os bosques, os rios,
os lagos, o mar, as estradas. Mas abria-se o caminho para a arquitectura e engenharia
desportivas, para a formação das federações nacionais e internacionais
desportivas, para os Comités Nacionais Olímpicos, que as práticas desportivas
iriam impondo, ao longo do seu crescimento e do seu desenvolvimento. A força anímica
de Coubertin seria contagiosa.
Sem comentários:
Enviar um comentário