segunda-feira, 7 de maio de 2012

3. A TRADIÇÃO INGLESA NAS TENTATIVAS FALHADAS DOS JOGOS OLÍMPICOS ?

Nas últimas 3 décadas do século XIX, começam a surgir frequentes movimentações desportivas, especialmente o atletismo, com competições locais e campeonatos a organizarem-se por todo o lado. Esta difusão que Pierre de Coubertin observa e anota nas deslocações que faz a Inglaterra e à América, a pedido e a expensas do governo francês, também interessado na projecção da França como impulsionadora da renovação dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, são fortes motivações que inculcam nele a ideia de que a implantação dos Jogos Olímpicos é uma subjectivação alicerçada pelo apoio do Governo e até pelas diversas entidades particulares e oficiais estrangeiras com as quais contactou pessoalmente, e lhe transmitiram a convicção de que a concretização do sonho era uma realidade a apagar aos poucos o que de início pareceria uma utopia.

Estes viagens e contactos frequentes contam, além do suporte económico do Estado, com a fortuna pessoal de Coubertin, herdeiro de uma cadeia de hotéis em França, que esbanjará para a realização de todo o trabalho de organização e realização do olimpismo, desde a criação do Comité Internacional Olímpico até à organização dos Jogos Olímpicos quadrienais, que o arrastou até à pobreza.

Nos seus contactos com as instâncias universitárias inglesas, apostadas na divulgação das práticas desportivas, é de considerar que Coubertin teria conhecimento dos arremedos de tentativas de organização de jogos olímpicos, nas ilhas britânicas, que se tornam notadas apenas pela magia da palavra “olímpics”. No início dos anos 1800, excepcionalmente,  os escoceses também foram influenciados pela difusão das actividades desportivas e criaram os “Highland Games”, omitindo o “olimpics” que considerarão termo britânico, e como manifestação de indepenedentismo da coroa inglesa contra a qual sempre lutaram, substituindo-o por “Highland”. Estes Jogos escoceses fizeram uma demonstração na Feira Internacional de Paris, em 1900, onde se realizaram os apagados II Jogos Olímpicos, e consta que Coubertin terá assistido à mesma, composta de provas de força (lançamentos do peso e do martelo) , velocidade, e saltos em comprimento, e  terá provavelmente pensado que, paralelamente, às actividades desportivas dos Jogos, os organizadores da Feira as terão aproveitado como espectáculos circenses.

Coubertin não deixou nenhum registo ou notação sobre a participação destas actividades dos “Highland Games” juntamente com os II Jogos Olímpicos, parecendo tomar parte destes, porque a organização foi totalmente apagada pelo domínio da Feira Internacional de Paris, nada interessada no relevo pretendido pelo Comité Internacional Olímpico. Constituiu uma experiência tão amarga que Coubertin teve de aceitar que os Jogos acabaram por serem designados de Concurso Internacional de Exercícios Físicos e de Desportos, e verá o exemplo repetido nos III Jogos Olímpicos, em 1904, incluídos na “Exposição Internacional de Saint Louis”, embora os Jogos estivessem marcados para Chicago, mas o Presidente Roosevelt insistiu junto do CIO para serem incluídos na Exposição, e Coubertin, bem a contra gosto, teve de anuir, mas recusou comparecer à abertura da Olimpíada, porque ficaria totalmente fora dos parâmetros do CIO..

Daqui terá certamente concluído Coubertin que os II e III Jogos Olímpicos, porque diluídos, um na Feira e outro na Exposição, nunca foram organizados pelo CIO, nem pelas cidades organizadoras, mas os estádios, as piscinas e as pistas artificiais desportivas, estavam limitadas às que a natureza fornecia: os bosques, os rios, os lagos, o mar, as estradas. Mas abria-se o caminho para a arquitectura e engenharia desportivas, para a formação das federações nacionais e internacionais desportivas, para os Comités Nacionais Olímpicos, que as práticas desportivas iriam impondo, ao longo do seu crescimento e do seu desenvolvimento. A força anímica de Coubertin seria contagiosa.

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